E recorda que "não eram tempos fáceis”. “Éramos 13 filhos e os mais velhos tinham de trabalhar para os mais novos".
Manuel tinha 23 anos quando começou a conciliar a área da construção com a vida no alto-mar. "Eu não era capaz de abandonar o mar. Era a minha enxada. Era a sobrevivência". Perguntei-lhe se não havia algum aspeto menos positivo nessa vida que tanto adorava. "Nós, de uma forma geral, somos todos muito marcados. Crescemos num ambiente de ansiedade e nervosismo porque, sempre que havia algum naufrágio ou problemas nos barcos em alto mar, muitas vezes a meio da noite, ficávamos com o medo de serem familiares ou amigos nossos". Perguntei se na família dele tinha tido alguma tragédia. Foi com emoção que respondeu: quer o avô, quer um tio faleceram no mar.
Para desanuviar o assunto, centrei a conversa no Dia dos Namorados, e quis saber se era casado. "Sou sim! Mas, infelizmente, ela está bastante doente. Está acamada. De certo modo, ela foi um dos motivos que me fez sair da vida de pescador. Dizia que nunca iria casar com um pescador porque não queria que, na vida dela, houvesse o sentimento de ânsia de perder o marido no mar”.
Nazaré, 14 Fevereiro 2016
Rui Miguel Pedrosa
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