José Silvestre, 66 anos - Começo por dizer que não fiquei realmente esclarecido se o Sr. José vive ou não neste pavilhão, abandonado em Lisboa, embora me tenha dito que não. Quando passei junto ao mesmo, vi um rapaz novo a fazer umas brasas para o almoço, cheguei ao pé dele e perguntei-lhe se ele vivia ali, ao que me disse que aquele lugar era do Sr. José que estava lá dentro. Cheguei-me à porta e perguntei ao Sr. José se podia entrar "Claro amigo! Aí o meu amigo está a preparar umas brasas para assar umas costeletas. É servido?." Agradeci e enquanto olhava à minha volta o Sr. José disse "Isto aqui é um barracão onde antes estavam cá ciganos, faziam aqui bailes e acho que baptizados. Depois isto ficou abandonado e vários cães abrigavam-se aqui." Olhei à minha volta e vi que o barracão como o Sr. José lhe chamou, tinha os vidros quase todos partidos. "Isto devem ter sido os miúdos, para eles deve ser uma diversão partir vidros". Também reparei que havia uma casa de banho e com orgulho o Sr. José mostrou-me e disse-me "venha aqui ver, fui eu que montei aqui esta sanita". Havia também uns sofás, uma arca frigorifica, uma mesa com vários utensílios de cozinha, uma pia, ao lado um espelho e várias coisas de casa de banho, uma máquina de lavar roupa e roupa estendida, uns armários, cómodas, muita roupa espalhada, uma cama fechada e outra no chão improvisada em cima do que me pareceu uma porta. Perguntei ao Sr. José se ali vivia "não, eu moro na Alta de Lisboa, se quiser mostro-lhe a minha morada. Venho aqui passar tempo com os meus amigos, fazemos aqui almoços, jogamos aqui à sueca, mas gosto de ter isto tudo limpinho". O Sr. José tinha a sua mão esquerda ao peito e bastante inchada "caí, aqui o Gandim estava atrás de mim, não o vi, tropecei e caí e acho que tenho isto partido" Desejei as melhoras ao Sr. José e um bom almoço "vai ser mesmo, uma costeletinha assada com batatinha cozida e claro um toquinho, (referindo-se ao vinho), isso não pode faltar!"
Lisboa, 14 de fevereiro de 2016
Miguel a. Lopes
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