Dimas Carlos, 49 anos. Sportinguista de fé, conta com orgulho que o seu nome é o de um antigo jogador de futebol do Sporting: ”são casos da vida, os meus pais gostavam do Dimas e lá fiquei eu com esse nome!”
O Dimas é açoreano, mas viveu cerca de 27 anos no Canadá: “sabes, sou um daqueles a quem chamam de repatriado, estive preso no Canadá, mas depois vim para cá, para fazer outra forma de cadeia aqui... cometi um erro enorme no Canadá, apanhei a minha esposa com outro homem na cama e fui acusado de assalto doméstico e tentativa de homicídio contra a minha esposa. Eu sei que na altura devia ter chamado alguém ou ter feito outra coisa qualquer, mas sabes ...nessas alturas a cabeça não funciona bem. Passei 8 anos e meio na prisão no Canadá, arrependi-me num instante”, diz-me com um ar que espelhava realmente o que tinha acabado de dizer.
“Voltei porque era um 'alien', um emigrante sem papeis porque eu não queria mudar de bandeira. A minha bandeira é a portuguesa e não a troco por nada. Mas tinha uma vida boa e tenho saudades do homem que eu era", diz ele. Conta-me que tinha uma boa vida, uma casa e um trabalho no qual tinha quase 140 homens a seu cargo, mas "são coisas da vida e um homem tem e se aguentar". Veio para os Açores em 1995, conseguiu voltar ao Canadá no ano seguinte, mas depois voltou de vez.
Sobre a sua nova vida nos Açores, diz-me que arranjou emprego mas infelizmente teve um acidente de trabalho e não pôde mais trabalhar; "Entretanto já 'matei o trabalho com uma faca de matar porcos', como costumo dizer. Tenho uma pequena reforma mas estou teso. Estava aqui a pensar onde ia pedir hoje. Tenho uma namorada mas ela não está a trabalhar, tenho de fazer o que for preciso para arranjar algum dinheiro. Vivemos no que chamo numa casinha de 'costaneiras', mas não entra água dentro, temos frigorífico, televisão, tenho cama, e estou bem, vou estando." Antes de ir emigrar, era lavrador desde pequeno e conta que nasceu "debaixo das tetas das vacas", mas na verdade, tudo o que gostava de voltar a ser era o homem que era quando vivia no Canadá. Deixou lá um filho, a quem deixou tudo o que lhe restava: "nem que morra de fome ou coma pedras de calçada, nunca vou ser capaz de vender a minha casa lá, é para o meu filho"
Sobre a sua nova realidade aqui na ilha, diz-me que não sente muito o estigma normalmente associado ao repatriação: "eu voltei para a terra onde nasci, nunca me senti mal por ser repatriado... são coisas que se passam na vida. O Nosso Senhor é que sabe do nosso futuro, tirando aquele problema em que me meti, de resto não me arrependo de nada e vou vivendo a minha vida devagarinho”, contou-me em jeito de despedida. Tudo de bom para si, Dimas. Obrigado.

Ponta Delgada. 25 de Janeiro de 2016
Rui Soares