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Manuel Nicolau, 57 anos

...acredito que nunca devemos esquecer que a nossa identidade é algo muito importante e dá-nos raízes.


Muitas vezes, quando procuramos o nosso ‘estranho’, o que nos capta a atenção é determinado local e a forma como a luz ali incide. Nesses momentos, decidimos aguardar que passe alguém e, aproveitando essa conjugação de fatores, esperar que aceite conversar um pouco. Este foi um desses momentos.
Foi ao ouvir duas crianças a brincar com o pai que senti que tinha encontrado, ali, o ‘estranho’ do dia. E não me enganei. Mesmo com a inquietação permanente e a azáfama dos filhos a correr de um lado para o outro, fomos conversando.
Manuel Nicolau conta que, após concluir o curso de engenharia civil, surgiu a oportunidade de ir para o Canadá trabalhar na construção de uma barragem. Foi o início de um percurso que o levou a correr mundo. Desde então, já trabalhou em diversas zonas do globo, desde Hong Kong, Taiwan, Qatar, Dubai e, atualmente, em Abu Dhabi. Mas, salienta, nem sempre foi assim e houve um período em que procurou regressar às suas origens.
Em 2019, ao pensar no que seria o melhor para os filhos, tentou voltar a Portugal. “Quis integrar os meus filhos culturalmente em Portugal, porque acredito que nunca devemos esquecer que a nossa identidade é algo muito importante e dá-nos raízes”, explica.
Tomada a decisão, recorreu a um apoio que então existia e que procurava incentivar o regresso dos emigrantes. Voltou e começou a procurar trabalho na sua área de formação. Não demorou muito até o desapontamento surgir. “Alertaram-me imediatamente que, com o currículo que eu apresentava, a taxa de empregabilidade seria baixa”, revela, não escondendo a desilusão. O programa que esperava que pudesse trazê-lo de volta, acentua, tinha afinal como objetivo atrair os jovens formados que emigraram mas, na realidade, não havia emprego para eles.
Com algum desalento, desabafa que “foi criado um programa de regresso que, na realidade, é uma ilusão”. E, salienta, “infelizmente Portugal é um país em que a meritocracia não prevalece”.
Decorrido uns meses, e já tendo começado a procurar trabalho fora de Portugal, aconteceu o inevitável: uma oferta de emprego no estrangeiro e acabou a ser colocado numa multinacional em Abu Dhabi. “Não tive outra opção a não ser voltar a sair do país”, relata, acrescentando que, ao mesmo tempo, percebeu que, em Portugal, “para quem quer encontrar trabalho e não tem filiação política, torna-se muito difícil recomeçar no zero”.
E em relação à adaptação dos filhos à nova cultura - e mantendo sempre na mira a atenção nas suas brincadeiras -, não hesitou em mostrar-me fotos deles na escola de Abu Dhabi, onde já fizeram amigos e convivem de forma natural com outras culturas e hábitos. Admite que, no início, o processo não foi fácil mas considera que, atualmente, os filhos se estão a adaptar bem.
“Tenho sempre muito presente a importância de não os traumatizar com tantas mudanças e pretendo proporcionar-lhes, tanto quanto possível, a normalidade que eles necessitam”, enfatiza.

Leiria, 26 janeiro 2023
Rui Miguel Pedrosa



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