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Rafael Costa, 32 anos

Sinto que aprendi mais, ali, em três meses, do que na vida toda


O ‘Rafa’. É desta forma que os amigos o tratam. E é sobejamente conhecido.Percebi o porquê quando me recebeu durante uns dias em que estive em Podence (Macedo de Cavaleiros). O que me chamou, de imediato, a atenção foi uma boa dose de carisma que ostenta, para além de uma aparente forma invulgar de estar na vida.
Enquanto conversávamos, não escondi a surpresa quando me disse que, no 9º ano, decidiu abandonar a escola. “Não me ensinavam aquilo que eu precisava de aprender. Por isso, saí”, esclarece, salientando que a saída não o impediu de continuar a querer aprender. Pelo contrário. “Passei a ir para a biblioteca, onde requisitava livros de Platão, Aristóteles e Sócrates, entre outros. Fui sempre procurando saber mais e mais sobre o que me fascinou sempre: a vida e o seu sentido. O que estou ‘aqui’ a fazer e de onde vim”, contou, adiantando que, no fundo, procurou, entre os filósofos, “arranjar um sentido de viver. Queria viver o meu caminho e não o caminho que os outros queriam. Sinto que aprendi mais, ali, em três meses, do que na vida toda”.
Contudo, mais tarde na sua vida, a escola voltou a ser o lugar que escolheu para prosseguir essa aprendizagem. Concluiu o ensino secundário à noite. “Foi uma loucura. Ia numa mota sem matrícula e nem carta de condução tinha”, recorda, soltando uma contagiante gargalhada.
Essa aventura, assegura, valeu-lhe o regresso à escola. E acabou por concluir, até, o curso de Turismo, enquanto ia trabalhando para, relata, “ter dinheiro para pagar os estudos”.
A conversa muda de tema e altera a expressão do rosto, abrindo um sorriso malandro para revelar que foi em Podence que conheceu a ‘sua’ rapariga, uma jovem natural da Costa Rica. “Lá me fisgou e veio ter comigo. E, olha, cá ficou. Até que tivemos um filho”, revela, com um brilho nos olhos. E de forma fácil e conversa franca, vai continuando a discorrer sobre a sua vida. A dada altura, a expressão volta a mudar: o sorriso apaga-se. “Os pais vieram cá e levaram-na. Naturalmente, quis ir ter com ela, mas precisava de dinheiro. Decidi ir no verão para o Algarve tocar gaita de foles na rua. Dormia na praia para poder poupar”, conta, salientando que, dessa forma, “consegui o que queria e, ao fim de 6 meses, fui ter com ela e o meu filho. Para me manter por lá, consegui um trabalho como professor de Português e lá fiquei durante 5 anos”.
A vida foi dando voltas e, anuncia, “acabámos por nos separar e, infelizmente, a pandemia fez com que ficasse sem trabalho”. Por isso, regressou às suas origens. “Continuo a poupar para poder voltar lá este ano, ou no próximo, para poder ver e estar com o meu filho”, conta com alguma emoção.
Recorrendo a uma pergunta clichê, em jeito de conclusão, perguntei se tinha encontrado as respostas que tanto procurou na adolescência. Volta a abrir o sorriso. "Acho que sim. E a resposta é que ‘só sei que nada sei’. Ao menos, já sei aquilo que não sei", diz, sem hesitar.

Podence (Macedo de Cavaleiros), 12 Março 2023
Rui Miguel Pedrosa




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