Armando Ventura, 67 anos. Apanhei o Sr. Armando a falar sobre o 25 de Abril à porta de casa. Conta-me, então, que foi um dos muitos açoreanos que esteve na Guerra Colonial: “Estive 25 meses em Angola. Voltei em 1971... e, felizmente, apenas morreram 2 rapazes na nossa companhia. Ainda bem que aconteceu a Revolução para acabar com aquela desgraça no Ultramar, os rapazes novos ficaram livres de ir morrer para lá." Continua contando o quão terrível era viver limitado pelo regime, com a PIDE sempre "em cima" de todos: "não podíamos ir a lado nenhum. Mesmo depois de ter voltado de Angola ia sendo preso algumas vezes apenas porque contava o que se tinha passado lá. Avisaram-me muitas vezes para não falar". Num misto de saudosismo e desilusão, conta que foram tempos muito difíceis especialmente porque foi destacado precisamente para onde "rebentou a guerra", mas que adorava poder voltar ao "sítio das pedras verdes", como chamavam o Terreiro, em Angola. "Gostava de ir aos sítios onde estive, ver aquilo tudo.... aquilo era tão lindo, mas mesmo lindo que não consigo explicar", diz-me com a voz trémula. Conta que uma "guerra tola" deu cabo de um país "lindo" e "riquíssimo", bem como da vida de muita gente, "e mesmo assim não ganhamos a guerra, entalamos aquilo tudo”. Hoje em dia, diz viver uma vida feliz com filhos e netos, e que se sente bem assim, mas acredita que todos os soldados do Ultramar desejam lá voltar, "nem que seja para sentir o cheiro da terra.” Obrigado Sr. Armando.
Ponta Delgada. 25 de Abril de 2016
Rui Soares
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