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R. 19 anos

R. 19 anos. Encontrei a R. na Rua Pedro Homem, em Ponta Delgada, a olhar fixamente para uma casa abandonada. Aproximei-me e perguntei como se chamava: “Tenho mesmo que te dizer o nome?" respondeu meio hesitante. "É so porque não gosto, não me identifico... não identifico comigo, não é um nome que me sirva ou assente. Sempre me chamaram por este nome, mas também começo a aperceber-me que não é a identidade que quero assumir. Não sei quem sou, sou apenas um pessoa... É algo que ainda não acabei de formar... comecei recentemente a olhar para mim de uma forma objectiva a tentar perceber o que é um 'eu' e o que é um 'eu imposto'". 
Conta-me que estava na Universidade a fazer um curso de Design e Comunicação, mas entretanto desistiu e ainda não sabem bem o que fazer agora. Veio à ilha para "refrescar as ideias" e para estar junto da sua família, com a perspectiva de iniciar um novo curso em Setembro; "mas ainda não sei bem... acho que entretanto vou começar um projecto de voluntariado num canil por cá. Só quero estar perto de animais e ajudar…”.
Perguntei-lhe porque estava há tanto tempo parada a olhar aquela casa, e conta-me que tem um fascínio por casas abandonadas: "para mim são tão interessantes... já viveram pessoas ali e agora estão em ruínas. Gosto de entrar e tentar perceber como é que eram as coisas antes. E mesmo a degradação é super interessante de ver. Porque a beleza não existe só nas coisas convencionalmente bonitas, o que a sociedade impõe como bonito não é a única maneira de olhar para as coisas. Sinto também nostalgia, mesmo numa casa onde nunca se entrou antes. A falta do tecto... como esta casa, com os escritos nas janelas... Não consigo meter por palavras melhores”, diz-me sem saber bem como explicar tudo o que lhe ia na cabeça.
Por fim, tento perceber como se sente em relação à sua vida no momento, e como imagina o seu futuro: "Não diria que esteja feliz, sinceramente.. isto é algo é muito relativo. Depende dos dias. Acho que estava mais feliz há 3 anos atrás e estou a tentar... mas é algo lento, um passo de cada vez. Não faço plano nenhum... vivo assim”. Espero que encontres o que procuras, R. Boa sorte com o voluntariado... e com tudo.

Ponta Delgada. 21 de Maio de 2016
Rui Soares


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