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Paulo Z. 37 anos

Paulo Z. 37 anos. O Paulo aceitou conversar comigo, mas pediu-me que a sua cara não ficasse visível na foto. Claro, acedi, sem imaginar o que iria ouvir a seguir. "Foi no dia 23 de Dezembro de 2010", começou a contar. "Ia de mota e quando me tentei desviar de um gato, caí. Parti a clavícula, e... apenas ao fim de 15 dias é que fui operado. O médico... o médico não foi a melhor pessoa, enfiou-me um ferro no ombro e perdi a mobilidade toda.” Continua contando que o ortopedista colocou-lhe um "ferro demasiado grande" para o seu corpo que o impedia completamente de mexer o braço direito, e por isso perdeu toda a massa muscular nesse braço. A sua vida mudou completamente. Vive agora de uma reforma por invalidez por não conseguir trabalhar. "É uma boa porra, digo-te já. Aos 30 anos ter um acidente e o ortopedista lixar-te o ombro não é bom, não é? …Depois de uma merda dessas, de uma asneira destas, olha... o que queres que faça?”, pergunta sem esperar qualquer resposta. Agora, tem um novo especialista a acompanhá-lo e tem esperança de voltar ao que era, "ou parecido...". Vai ser operado novamente, mas já está à espera de ser chamado há 6 anos. Antes de seguir o seu caminho, diz-me "sim, sou feliz. Vou andando, vou rindo". Com uma resiliência quase sobre-humana e difícil de compreender depois do que me contou, diz que, embora seja muito difícil passar por uma situação destas aos 30 anos - "a melhor fase da vida de alguém" - sabe que há pessoas que passam por coisas bem mais difíceis: "Há quem esteja bem pior do que eu, apenas conseguem mexer os olhos. Eu ainda tenho duas pernas que me levam a todo o lado. Daqui para a frente é tentar recuperar. Melhor do que isso não há, há apenas o amanhã. E sabes... já é muito bom um gajo acordar de manhã.” 
Obrigado por me contares a tua história, Paulo. Boa sorte com tudo.

Ponta Delgada. 30 de Maio de 2016
Rui Soares


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