“João”, 31 anos. O "João" aceitou participar do nosso projecto, desde que se mantivesse anónimo. 
Conta-me logo à partida que é repatriado. "Saí de cá há 20 anos e gostei muito de estar lá a viver, pensava sinceramente que ia ter uma boa vida. Mas as coisas correram mal. Trabalhava, estava na escola, ajudava os meus pais, mas tive uns problemas com uma namorada e fui parar à prisão em parte por causa dela. Estive preso 13 anos e 9 meses... cometi muitos crimes, nunca matei nem roubei nada, apenas levava uma vida mais violenta. Também não tive os melhores amigos.... uma vez bati tanto num homem que ele esteve quase a morrer. E bati na minha namorada, ela traiu-me e eu não gostei." Conta-me que se arrepende muito disso, e de tudo o que fez, mas "era novo, não tinha cabeça". Hoje em dia, diz-se incapaz de voltar a fazer o mesmo, e que as suas mãos "nunca vão voltar a bater numa mulher".
Já está nos Açores há 7 anos, e passou por muitas dificuldades neste regresso; "Vivi numa garagem, não tinha nada, nem para comer e beber... mas assim do nada tive uma boa oportunidade e meti-me nesta vida de venda de droga. Atenção!, eu não consumo, apenas vendo. Forneço uma procura, mas temos uma vida perigosa, arrisco a minha vida todos os dias... Graças a Deus nunca fui apanhado. Tem de ser assim... sempre que houver uma fatia de pão, eu vou lutar para comê-la.”
Diz-me que não precisa de muito para ser feliz, desde que não se metam na sua vida está tudo bem. "Se é para ser nessa vida de venda ou não, não sei, só quero ser feliz. Todos os dias para mim são dias novos, qualquer coisa boa que venha tenho de aceitar”. O que mais deseja no futuro, era poder voltar a emigrar, porque deixou lá um filho que quer voltar a ver mais do que tudo. “Não sei como, mas vou lutar ao máximo para lá voltar. Mas se não der, o meu filho (que agora tem 11 anos) vem cá ver-me, isto é o que quero mais na vida.” Obrigado pela sinceridade “João”. Tudo de bom para ti.

Ponta Delgada. 17 de Abril de 2016
Rui Soares