José Lopes, 74 anos. Encontrei o senhor José, com uns amigos, durante umas obras de reparação da nora existente no rio Lis, um dos ex-libris das Cortes. Diz que já perdeu a conta à quantidade de profissões que já exerceu. “Inclusive cheguei a ter algumas propostas para trabalhar no estrangeiro. Mas acabei por nunca sair daqui. Veja lá que a minha mulher nunca me deixou ir. A sério, ela não deixava mesmo porque dizia que me queria com ela”, conta sorrindo. Influenciado pelo pai, que era carpinteiro, acabou por se deixar envolver, também ele, nesta arte de trabalhar a madeira. “É como andar de bicicleta”, conta José. E, com orgulho, revela ter sido ele a construir a nora das Cortes. “Agora estou na fase final da montagem. Mas demorei cerca de 2 meses a construí-la. Você não imagina. Fiz imensos quilómetros até encontrar o tronco certo. Não pode ser um tronco qualquer. Tem de ser um tronco que seja torto”, salienta José. Descreve que, em 1982, tinha sido estabelecido pela assembleia de freguesia que se iria voltar a pôr a nora a trabalhar. “Foi quando, junto com um amigo, decidimos meter mãos à obra e fizemos uma nora de madeira. Que infelizmente durou apenas 4 anos”, lamenta. Mas não desistiu e desde aí já construiu mais três destes engenhos, movidos a água. Revela que a última nora, também feita por ele, durou até ao final de 2015. “Durou cerca de 20 anos porque tive de lhe fazer umas mudanças para que durasse mais tempo. Mas, mais uma vez, não podia deixar que ficássemos com a nora parada. Então decidi que queria dar este presente à terra. A nora faz parte do nosso emblema. E não podia deixar que isso se perdesse. É a identidade das Cortes. E, sinceramente, espero que esta dure outros tantos anos. E, se eu não estiver cá, espero que não deixem perder este marco histórico e que haja alguém que continue o que tem sido feito”, afirma como se estivesse a fazer um apelo para memória futura.
Cortes, 20 Maio 2016
Rui Miguel Pedrosa
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