João Teixeira, 73 anos. Encontrei o senhor João a conversar com uma amiga em comum e a certa altura ele fica comovido e diz que podia já nem estar vivo. “Estive encostado a uma parede, junto com os meus funcionários, para sermos fuzilados. Mas felizmente estou cá para contar a história”, revela, emocionado, como se ainda estivesse a viver aquele momento. O episódio passou-se a 4 de Fevereiro de 1974, depois de João Teixeira ter decidido ficar por Angola, após cumprir o serviço militar. "Os militares do MPLA decidiram libertar toda a canalha que estava presa e eles começaram a saquear as lojas todas. Então houve um dia que chegaram à minha loja de produtos alimentares e começaram a roubar e a partir tudo. Levavam para a rua e apenas queriam queimar as coisas. Era incrível! Quando estávamos todos encostados à parede e nos ameaçavam matar, chegou o pai de um dos meus funcionários e começaram a disparar contra ele”. Mesmo à beira da morte, foi este homem que a caminho do hospital conseguiu contar às forças militares portuguesas a situação em nos encontrávamos, para que nos pudessem ajudar. "Nunca na minha vida tinha sentido tanto medo. É impossível esquecer uma coisa destas”, confidencia.
Quando lhe pergunto o que tinha acontecido para andar com uma máquina de oxigénio, explica que se estiver sem ela 10 minutos ‘cai para o lado’. “Em Junho de 2015 estive internado 18 dias com uma pneumonia. Em Outubro estive outra vez no hospital e disseram-me que tinha de andar com isto 15 horas por dia. Mas uma semana antes do Natal tive uma nova recaída e desde aí que tenho de estar ligado a isto 24 horas por dia. Preciso dela para viver”, conta com alguma tristeza, admitindo que para além das limitações que lhe provoca, obriga-o a ser mais cuidadoso e disciplinado. Apesar disso, tenta viver a vida da melhor forma que consegue. “Quando me disseram isto foi um ‘camião de gelo’! Na altura pensei em desistir e se valeria a pena continuar. Andei uma semana desorientado. Mas sabe, no final de contas sou muito rico. Sou rico de valores! Tive uma boa educação! E felizmente consegui ultrapassar isto. Enquanto andar e estiver bom da cabeça é que interessa. Só peço a Deus que a máquina não deixe de funcionar”.
Leiria, 3 Maio 2016
Rui Miguel Pedrosa
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