Manuel Silva Moreira, 71 anos. Neste caso não é a “canção de Lisboa” mas sim a de Leiria. E podia invocar o célebre cliché e dizer “Chapéus há muitos”. Ups! Fi-lo. Adiante. Decidi ir falar com o proprietário de uma das lojas mais antigas de Leiria. Local onde, em miúdo, eu espreitava para o interior e via um mundo de chapéus interminável. Esse mundo ainda existe, embora melhorado de modo a acompanhar os tempos. “No início, incentivei a minha esposa a ficar com o negócio da família. Foi passando de geração em geração. Contudo, ao longo dos anos, passou por algumas remodelações e adaptações mas o negócio-base tem sido sempre o mesmo”, conta Manuel, gesticulando e exemplificando como foram sendo feitas as mudanças no espaço. “O chapéu é algo que, com o tempo, me foi seduzindo”, revela, sorrindo. Mais tarde, passou a exercer a sua profissão em part-time e acabou por se dedicar à loja com a esposa e a ajuda das filhas. “Sabe, ao fim destes anos todos, permitiu-nos perceber que com o tempo nos fomos também adaptando. Os chapéus foram evoluindo mediante o estilo das gerações. Por vezes, recebemos clientes, alguns deles estrangeiros, com pedidos o que nos fez ir melhorando o chapéu. E isso sempre foi aquilo que me foi fazendo ter bastante orgulho no que fazíamos”, conta. “As pessoas já se começam a habituar. Mas, na realidade, o chapéu passou a ser um adereço”, adianta, não escondendo alguma tristeza porque o chapéu deixou de ter o significado que tinha no passado. Diz que os seus clientes têm, na sua maioria, acima de 30 anos. “Se calhar, pensam nisso quando percebem que tem menos cabelo”, admite, sorrindo. “Agora a sério: acho que as pessoas, nessa idade, é que percebem efetivamente que é preciso proteger o nosso ‘computador’. Sabe, aqui não se substituem peças”, sublinha, apontando para a cabeça.

Leiria, 27 Abril 2016
Rui Miguel Pedrosa