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José Viegas, 59 anos

José Viegas, 59 anos - Encontrei o Sr. José a conversar com dois amigos junto à Cinemateca em Lisboa, quando os abordei ele foi o mais falador e a sorrir respondeu-me logo "Quer falar comigo? Eu estive em três guerras por isso é que fiquei maluco!" Depois em voz militar apresentou-se "Sou o Capitão Paraquedista José Viegas!" Perguntei-lhe em que guerras tinha estado "Rodésia, Guiné e Angola. Estive primeiro no Zimbabue antiga Rodésia, estava inserido num dos grupos rebeldes para destituir o governo, eram grupos pequenos de oito homens. Depois na Guiné e depois em Angola no batalhão búfalo II grupo que envenenou e dinamitou o sistema de água que abastecia Luanda" perguntei-lhe se tinha morto pessoas e se se arrependia disso "Inimigos sim, mas as missões tinham de ser cumpridas, a guerra não perdoa, ainda há pouco tempo eu tinha a cabeça a prémio. Desafiei muitas vezes Deus, se calhar por isso estou agora a pagar. Sou hipertenso por causa dos saltos de paraquedas, ao todo fiz 232 saltos!" Depois descreveu-me algumas das mazelas físicas que tinha sofrido "Aqui este dedo deformado foi numa fuga e está a ver aqui esta bala, retirei-a eu com uma faca aqui desta mão. Numa fuga andei a pé 180km com oito costelas partidas e tive cinco dedos dos pés partidos." Perguntei-lhe o que fazia actualmente "Biscates e arrumo carros, mas é muito humilhante, já tive tudo e perdi tudo depois da minha mulher morrer. Vivíamos na Alemanha, eu ganhava 4500€ e ela 2500€, vivíamos com 7000€. Em 2009 vínhamos a Portugal passar férias e como eu não podia vir logo, ela veio de carro e eu vinha uns dias mais tarde de avião. Em Santarém ela teve um acidente e morreu. Fiquei tão revoltado e triste que depois de vir para Portugal e saber o que lhe tinha acontecido nunca mais voltei à Alemanha, deixei tudo e fiquei uns tempos a viver num hotel em Lisboa, mas como era ela que tratava dos dinheiro e orientava a nossa vida, eu fui gastando as economias que tinha e do hotel passei para uma pensão, da pensão para um quarto e do quarto para a rua. Mas como disse deve ser o castigo de Deus por eu o ter desafiado." Depois disse-me que dormia aqui mesmo atrás de uns arbustos quando trabalhou uns meses num hotel ali perto "Eu dormia aqui na rua e no dia seguinte estava de fato impecável e de barba feita à porta do hotel a sorrir para todos os clientes. Acredite que no hotel nunca souberam! Desafio qualquer um a fazer isto!" ainda me contou: "um dia estava aqui a arrumar carros e chegaram dois gajos num Ferrari, estacionaram e deram-me 10 cêntimos, eu olhei e devolvi-lhes o dinheiro, ao que me perguntaram porque não aceitava e eu respondi-lhes que lhes fazia falta para a gasolina. Assim que me viraram costas gritei-lhes a exigir que tirassem dali o carro ou então ia-lhes partir o carro todo. Cresceram para mim mas eu fiz o meu ar de maluco e disse-lhes que não tinha nada a perder e que não admitia que gozassem comigo e eles acabaram por tirar o carro dali" Por fim perguntei-lhe o que queria para a sua vida "arranjar um trabalho e assim que arranjar vou viver para um quarto, mas não quero pedir nada a ninguém, fui educado assim!" 

Lisboa, 11 de abril de 2016. 
Miguel A. Lopes



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