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José Rodrigues, 87 anos

José Rodrigues, 87 anos - Encontrei o Sr. José a passear nos jardins da residência oficial do primeiro Ministro em São Bento, que teve hoje as portas abertas ao público, quando o abordei fiz-lhe a pergunta da praxe: Onde estava no 25 de abril de 1974? "Nesse dia maravilhoso que depois se revelou ser, comecei o dia logo com um valente susto. Estava em casa, de manhã liguei o rádio e ouvi que havia a revolução e que as pessoas não deviam sair de casa, acontece que o meu filho que estudava no liceu D.Pedro V já tinha saído de casa para a escola. Saí a correr e fui até ao Liceu ver se o via, cheguei lá e estava fechado. Fiquei assustado em não o ver e comecei a perguntar a quem andava por ali se tinha visto miúdos, até que um senhor me disse que ali perto tinha visto uns miúdos a jogar matrecos. Fui até lá e lá estava ele descansado a jogar com os amigos. Eu estava chateado e ralhei com ele, discutimos mas depois lá fomos para casa. Ficamos o dia todo a ouvir a rádio e ao final da tarde ouvimos que já estava tudo na rua, mais calmo, fui até ao Largo do Carmo e foi uma grande emoção, indescritível. Foi mesmo um dia muito bonito em todos os sentidos, um dos mais bonitos aqui em Lisboa, parece que a liberdade andava no ar, sentia-se, toda a gente sorria feliz. Eu próprio fui várias vezes ameaçado pela PIDE embora eu nunca fosse das políticas. Mas anos antes tinha assistido à chegada de Humberto Delgado a Lisboa, os GNR's a cavalo com as espadas deles não poupavam ninguém juntamente com agentes da PIDE, foi uma enorme confusão e dias depois assisti ao comício no Liceu Camões e os Pides vieram-me ameaçar e também foi uma enorme confusão. Voltando a 1974, dias depois do 25 de Abril foi o 1º de maio e foi maravilhoso, milhares e milhares de pessoas na rua a celebrar a liberdade e eu vi e ouvi o discurso do Soares e do Cunhal." Depois, antes de acabarmos a conversa disse-me "A liberdade existe mas não é o que se pensou e sonhou naqueles dias, hoje há ditadura mas económica, cada vez há mais pobres, e não sei para onde vai o dinheiro de tantos cortes que já sofri na minha reforma nem para onde vai o dinheiro dos meus impostos. Jovem aproveite a vida e a sua liberdade!"

Lisboa, 25 de abril de 2016
Miguel A. Lopes


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