Eusébio Neves, 70 anos e Bolinha, 4 anos - Encontrei o Sr. Eusébio a passear a Bolinha no topo do Parque Eduardo VII, chamou-me à atenção o facto de estar a aconselhar uma senhora que passeava um cachorro, para que não o deixasse ir para certas ervas pois os alguns sem-abrigo vão ali fazer as suas necessidades. Quando lhe perguntei o seu nome respondeu-me "Sou o Eusébio, mas o branco, e ela é a Bolinha. Reformei-me e eu e a minha mulher adoptamos a Bolinha. Ela estava num canil, mas antes disso todos os dias ía para a porta das fábricas do outro lado na margem Sul, esperar que as pessoas lhe dessem os restos das refeições que levavam. Ao princípio ela tinha lá o espacinho dela em casa mas agora às vezes acaba a dormir na nossa cama." Perguntei-lhe qual tinha sido a sua profissão "Fui técnico de Raio X, não dos que fazem Raio X mas numa empresa que os montava, instalava e fazia manutenção em hospitais e centros médicos" e a sorrir contou-me: "Há uma história que conto sempre, antes os exames de Raio X eram feitos numa sala escura e normalmente os doentes entravam numa pequena divisão onde se despiam, depois entravam na sala do Raio X e o médico dava as indicações no escuro onde só havia uma pequena luz vermelha, como nos laboratórios de fotografia em que se leva um pouco de tempo a acostumar à luz. Um dia, um senhor chegou a um dos consultórios para ir buscar o resultado de um exame mas na clinica não havia exame nenhum para lhe dar, ele disse o dia e a hora e realmente estava nos registos o nome dele mas não aparecia nenhum registo que tivesse feito o exame, ele insistia que esteve despido a receber as ordens do médico, e vira para um lado, e encoste-se do outro lado, mas por mais que procurassem não aparecia o exame, então as funcionárias foram com ele à sala e aí perceberam que o homem não tinha passado da divisão onde se despiu e que com toda a certeza as ordens que o médico estava a dar eram para o paciente anterior a ele".
Lisboa, 5 de Abril de 2016.
Miguel A. Lopes
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