António Ambrósio, 61 anos. Conheci-o ao final do dia, perto de um café onde este estava com os amigos. “Eh meu amigo, eu sirvo o pessoal” disse-me ele quando começamos a conversar. “Eu sou agricultor e faço serviços em casa de pessoas, como cortar erva, arranjar os quintais, etc., e já trabalhei na lavoura também. Costumo dizer que sou agricultor desde que nasci, trabalhei na pecuária também... e embarquei também para a Bermuda, onde estive 18 anos mesmo tendo de deixar a minha mulher atrás já com um filho." Nesta vida cheia em que fez de tudo um pouco, em paralelo ia sempre trabalhando nas terras, mesmo quando estava na escola. Acabou por ter de abandonar os estudos. Embora tenha pena de ter tido de deixar a escola, diz que não se arrepende de nada, porque assim fez o seu pai feliz "e depois felicidade dele foi retribuída aos filhos.”
Lembra que antigamente a vida era muito diferente e mais simples; as pessoas viviam felizes, as crianças brincavam com os amigos não havia tanto stress. Mas pensando melhor, diz-me que nunca sofreu realmente desse mal: "não consigo compreender o que é o stress, acho que nunca senti isso, porque quando era para trabalhar era para trabalhar, e se está a chover não se trabalha. É simples. Isso do stress é uma coisa dos tempos modernos!”
Casado, pai de 3 filhos avô de uma neta de 8 anos, diz-me que não sabe muito bem o que pensa dos tempos de hoje em dia e daquilo que pode esperar da vida: ”epa, eu vivo bem com a minha família, convivo bem com todos os meus amigos, acho que não tenho inimigos e agora é esperar... É passar de hoje para amanhã, e estou à vontade à espera do meu 'último dia'. Pronto, qualquer hora que for, agora pode ser. Tive um vida suficiente, já trabalhei, já gozei, já levei uma vida feliz. Sabes, eu tenho os melhores 3 filhos que possa haver no mundo, nunca tive um problema, eles são os melhores... só tenho de dizer que a mãe, a minha mulher, fez um grande trabalho a educá-los, foi mãe e pai numa época difícil, é uma grande mulher”, disse ele com um sorriso envergonhado mas orgulhoso. Obrigado pelo seu tempo, senhor António. 

Atalhada. 10 de Abril de 2016
Rui Soares