José Baião, 80 anos - O Sr. José cruzou-se comigo no seu Fiat 500 e eu achei que seria engraçado falar com ele, não voltei para trás para ir atrás dele mas passado uns minutos voltei a ver o Sr. José a estacionar perto do CCB e fui ter com ele. "Vivi 45 anos em Inglaterra e trouxe-o de lá. Estava semi-abandonado, a dona dele tinha-o estacionado e não andava com ele e eu comprei-o. Já o tenho há 35 anos mas está sempre a avariar, é Fiat. Devia ser era um dois cavalos, isso sim são carros a sério!" Perguntei-lhe o que fez em Inglaterra e a rir disse-me "Fui para lá para aprender o Inglês e nunca aprendi!" e acrescentou: "Nunca levei muito sério a vida, sempre fui muito instável, como o tempo em Inglaterra! Fiz de tudo um pouco fui-me sempre desenrascando, trabalhei em restauração, hotéis e mudanças. Já na altura que me fui embora havia empregos precários em Portugal, onde é que já se viu uma pessoa a trabalhar na caixa de um supermercado por 20 euros por dia? Se fosse eu, ou roubava a caixa ou levava os bolsos cheios de bifes para depois vender, é "against the law" mas safava-me! É uma vergonha ter patrões que exploram os empregados!" Durante a conversa sempre que falava para o Sr. José ele aproximava-se e perguntei-lhe se ouvia mal "Ouço mal mas não me apetece meter um aparelho, depois aí é que pareço um velho! Sabe, sou muito brincalhão e se já o conhecesse bem fingíamos já que estávamos a discutir e à pancada e depois era ver aqui os turistas a ver e nós a rir!" Quando fiz a foto perguntei-lhe se o carro era azul ou preto "É azul escuro, e essa é outra história, mandei pintar o carro na Cova da Moura, mas a oficina onde foi pintado era ilegal. Nesses dias mataram um polícia lá na Cova da Moura, o dono da oficina ligou-me para eu ir rapidamente tirar de lá o carro porque aquilo estava cheio de polícia e íam fechar a oficina. Fui lá, trouxe o carro e só paguei 60 euros pela pintura!"
Lisboa, 25 de Março de 2015.
Miguel A. Lopes
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