João Santos, 67 anos, "mais conhecido como ‘João das Barbas’”. Reconheço que foi esse o motivo que me fez abordá-lo. “Isto de ter barba não é para qualquer bandalho. A higiene e o respeito pela barba é essencial. Esta já vai com 45 anos”. Diz-me que esteve ligado ao futebol juvenil do Marrazes, onde fazia um pouco de tudo. “Só não fui presidente e tesoureiro. Porque para isso é preciso mentir quanto baste. Por lá vi passar, por exemplo, o Rui Patrício, que com 12 anos foi para o Sporting”. João conta que está aposentado – sorri e diz que essa é uma palavra chique para reformado – de serralheiro, uma actividade que só interrompeu para cumprir o serviço militar obrigatório. “Estive lá 4 anos. Não fui ao Ultramar mas gostava de ter ido. Nesse tempo era a única forma que tínhamos de conhecer ‘além fronteiras’. Naquela altura, não sentia medo de nada. Quem é que, com 20 anos, tem medo? Quando se é jovem achamos-nos invencíveis”, conta, em tom animado. 
De seguida diz que me vai contar outro episódio de vida, que é mais sério. E revela que aos 49 anos teve de ser operado ao coração. “Naquela altura eu tinha 110 quilos e bebia 5 litros de vinho, todos os dias. Aprendi da pior forma o tipo de vida que levava. Aqueles que eu achava que eram amigos nem vê-los. As únicas pessoas que estiveram sempre presentes, ao meu lado, foram precisamente aquelas com quem tinha estado menos presente: as minhas filhas e a minha mulher. Estavam todos os dias ao meu lado”. Já com uma pontinha de emoção, recorda que a doença o chamou à realidade. "Foi quando percebi que tinha de mudar de vida. Quando somos novos queremos 'rambóia'. Depois há o período de criar família. Mas eu já estou na fase onde a minha esposa é o meu pilar e voltámos ao namoro”. Embora ela esteja doente, João, desta vez, não se ausenta. “Ela esteve quando precisei e agora sou eu que estou com ela. Ela é a minha ‘princesa’ e eu, para ela, sou o chato que nunca nunca faz nada bem. Mas é com ela que quero ficar e cuidar dela. Para ficarmos aconchegados para a velhice”.

Leiria, 2 Março 2016
Rui Miguel Pedrosa