Ana F. 32 anos. “Faço 33 anos no dia 10 de Março!”, começou por me dizer, "e vou fazer o meu aniversário cá, eu gosto de estar cá. Mas preferia estar cá de férias porque isto é tão lindo que só apetece passear!”
A Ana é do Norte e é professora de Português e Inglês, do 1º e 2º ciclo aqui em S. Miguel. "Em 2005, quando acabei o curso, fui para a República Checa dar aulas. Tive lá 86 dias, os meus alunos tinham 18/19 anos e não falavam inglês, portanto ao fim de uma semana fui encostada para canto porque ninguém me entendia”, diz a rir. Gosta muito da ser professora, mas não gosta do estado em que está a Educação, repleta de burocracias e cada vez menos respeito pela profissão: "É muito diferente do nosso tempo, não havia tanta regra mas havia um respeito enorme pelo professor. Era uma segunda mãe ou um segundo pai, é a pessoa com quem passamos mais tempo para além dos pais. Hoje em dia... não sei, estão sempre à espera que diga as respostas todas, que faça tudo, não podemos facilitar, mesmo em termos de comportamento.”
Embora goste muito da sua profissão, não foi propriamente um plano concreto que queria realizar: “Foi um pouco sem querer, gostava de ter sido arqueóloga, ou realizar documentários...mas aconteceu assim. Entrei em Viana um pouco sem querer e lá fiz o curso, mas não me arrependo de nada, sou feliz por ser professora e a recompensa é tão boa." No entanto, reforça que hoje em dia as coisas são muito diferentes porque é muito raro conseguir "deslumbrar os putos com as coisas que dizemos ou mostramos". Mas, quando acontece é "delicioso", diz ela.
Já trabalhou em Matosinhos, em Vila do Conde e agora está em S. Miguel. Chegou cá em 2008 e confessa que nem sabia bem onde ficava os Açores: "A primeira vez foi um pânico, mas eu gosto muito desta ilha! Apesar de termos mar de um lado e outro, não me dá uma sensação de ilha. Existem sitio aonde ir, existem pessoas para ver, há sempre algo para fazer... e este mar! É óptimo, sentir este ar e isto aqui... as pessoas são tão boas, adoro estar cá!, e tive a sorte de voltar este ano.”
Conta-me, que o seu estado de espírito é um pouco como a meteorologia dos Açores: "Sou uma pessoa que vai com o correr das coisas, o correr da vida, tentando agarrar as oportunidades que surgem, pessoalmente e profissionalmente. Estou no contentamento, aceito-me bem pouco fiz para deixar a minha marca no mundo, mas que tento todos os dias!. O tempo está a passar, e às vezes parece-me que depressa demais, como areia entre as mãos, porque olho para trás e pouco fiz, mas aceitei-me e aceitei a vida." Optimista, diz-me que todos temos uma "penumbra", mas que só temos de conseguir sair dela. Obrigado pelo teu tempo e pelo isqueiro, Ana.
Ponta Delgada. 2 de Março de 2016
Rui Soares
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