Roberto Ledo, 39 anos. Cá em São Miguel estamos na época das romarias quaresmais, que são peregrinações feitas por grupos de homens que dão a volta completa à ilha a pé, em cerca de sete dias. São uma das mais importantes e profundas tradições populares açoreanas, e foi neste enquadramento que encontrei o 'irmão' Roberto. Começou por me dizer que não estava junto do resto dos seus 'irmãos' porque contraiu uma lesão muscular: "vou continuar a romaria até ao fim mesmo magoado, vou continuar. Só estou à espera deles para continuar.” Tenta explicar-me o que para si significa ser romeiro e fazer parte de uma peregrinação destas, mas as palavras parecem não ser suficientes: “isto para mim é muito... é muita coisa, não consigo explicar. É uma forma de mostrar aquilo que sentimos por Nosso Senhor Jesus Cristo, de dar graças..”
A vida não está muito fácil para o Roberto, tendo que lidar com a falta de emprego: “Isto está tudo tão mau, estou desempregado... então vim fazer a romaria, queria ter esta semana para limpar a cabeça, pensar no que é mais importante. É a minha primeira vez. Posso não ir muitas vezes à missa, mas a romaria está a ser algo único e aqui aprendemos a amar-nos uns aos outros, a agradecer. E ganhei irmãos para a vida... mas magoei-me bem há bocado, e vieram-me trazer-me aqui. Uma pessoa que é também é romeira deu-me boleia, ele ia chorando e eu também. Mas agora estou à espera para continuar com os meus 'irmãos' até ao próximo sábado, que é quando chegamos a Rabo de Peixe”, contou-me ele. Neste momento, começámos a ouvir o cantar dos 'irmãos' e ele apressou-se para juntar-se a eles, nessa sua primeira romaria. Obrigado e boa sorte Roberto.
Ponta Delgada. 18 de Fevereiro de 2016
Rui Soares
0 Comentários