Marta Gomes, 38 anos. Depois de lhe explicar o projeto, perguntou-me por que motivo a escolhi até porque não tinha assim muita coisa interessante para dizer. Sorri e respondi que toda a gente tem uma vida interessante. É natural de Almeirim e, assim que o disse, rapidamente a conversa foi desviada para a fantástica sopa da pedra e alguns dos restaurantes de referência. Prossegue a sua história, contando que veio estudar para Leiria aos 17 anos. E depois diz: “as pessoas não devem desistir dos seus sonhos. Pode parecer que tudo está a desabar mas há sempre solução. Temos de ser fortes para dar a volta por cima”. Faz uma pausa e muda de assunto, dizendo: “sou a favor da adoção”. Peço-lhe para me explicar por que motivo estava a dizer isso. “Passei por alguns momentos menos coloridos. Estar longe da família e a perda de uma filha terão sido as fases menos positivas da minha existência”. Disse-lhe que Almeirim é mesmo aqui ao lado e que se chega lá num instante. “Tento lá ir, pelo menos, uma vez por mês. Sabe que, apesar de Almeirim ser a um ‘pulinho’, a vida torna esse ‘pulinho’ longe”. E regressa à adoção: “Acho lamentável que se envolva dinheiro por uma vida humana. Tem-se tornado, cada vez mais, um negócio. E esquecem-se do mais importante: dar uma família a essas crianças e zelar para que sejam bem cuidadas”. Pergunto-lhe o que tinha acontecido quando falou na perda da filha e se quer falar sobre isso. E fala. “Esse foi, sem dúvida, o ponto mais baixo da minha existência. Tinha 27 anos. Mas, felizmente, com a ajuda do meu marido e da família, consegui passar por isso. Estava a sofrer mas fiz tudo para ser forte e dar a volta por cima. Custou imenso. Era a minha primeira gravidez que foi até aos 8 meses. Naquela altura teve de ser feito, na mesma, o parto normal. E houve um funeral. Sou cristã praticante; saber que a existência dela não ia acabar ali, ajudou. E o facto de saber que um dia poderei vê-la novamente, significa que não foi morte. Foi um até já”, diz emocionada. E conclui: “agora, temos dois filhos lindos”.
Leiria, 18 Fevereiro 2016
Rui Miguel Pedrosa
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