António Silva, 58 anos e Filomena Ferreira, 54 anos- O António e a Filomena estão juntos há 32 anos. A sorrir a Filomena disse "temos um filho com 31 anos e nunca pensámos em casar, estamos bem assim". Desde 2011 que António trabalha em Angola e a Filomena trabalha na Suíça desde 2014. António: "Trabalhei muito anos numa serração que depois fechou. Um amigo meu tem uma serração em Angola, sabia da minha experiência e que eu estava desempregado e desafiou-me para ir para lá. Ao principio recusei, mas depois de tanta insistência fui lá três meses experimentar e gostei. Quando fui para lá ganhava-se muito bem, agora menos mas continua a valer a pena." Perguntei-lhe se era fácil trabalhar em Angola. "Onde eu estou é calmo, Huige, perto da fronteira com o Congo, mas há muita corrupção! Já li que é até o país mais corrupto do Mundo. Um dia precisei de uma assinatura de um engenheiro, tive de lhe dar 60.000 quanzas, como foi preciso mais um documento, no dia seguinte o meu empregado teve de lhe levar mais 20.000 senão não assinava! Todos querem "gasosa" (dinheiro). Também há insegurança, principalmente em Luanda. Quando lá cheguei a primeira vez, fui logo assaltado. Estava com outros Portugueses perto de um bar, chegou um Angolano ao pé de mim a pedir "cumbu" (dinheiro), como não lhe dei, quando ia embora, apareceram dois e mandaram-me ao chão, um deles agarrou num pedregulho para o largar em cima da minha cabeça, o outro meteu-me a mão ao bolso e levou-me o telefone. Nós, lá em Angola somos vistos como multi-caixas (multibancos) com pernas! Já para não falar do policias, esses então é mesmo à descarada!". Filomena: "Eu trabalhei 30 anos ao balcão, em diferentes lojas de roupa nas Caldas da Rainha. Depois cansei-me e fui fazer limpezas, podes não acreditar mas eu ganhava o dobro nas limpezas, do que ganhava nas lojas! Depois estive 9 meses numa fábrica, toda a minha vida passava junto dela, sempre disse para mim que um dia ia para lá trabalhar, e assim foi, por pouco tempo mas gostei muito. Entretanto a minha irmã que está na Suíça e tem lá um restaurante, precisava de uma pessoa para a ajudar e que também ajudasse a cuidar da filha, fui para lá e lá estou". Perguntei-lhes como era estarem a milhares de quilómetros "falamos quase todos os dias por telefone. O António vem cá de seis em seis meses e eu venho sempre cá ter com ele".
Caldas da Rainha, 18 de Fevereiro de 2016.
Miguel A. Lopes
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