Madalena Sabino, 70 anos. A D. Madalena nasceu na Candelária, mas depois de casar, em 1965, mudou-se para os Mosteiros. Conta que sempre foi doméstica, o seu marido era mergulhador e pescador, mas, infelizmente, depois de regressar do Ultramar teve uns problemas de saúde e acabou por falecer uns anos mais tarde. A D. Madalena sente saudade dos tempos antigos: "para mim, antigamente era bem melhor. Por exemplo, íamos à loja e o dinheiro dava para muito mais, as comidas eram mais saborosas porque cultivávamos as nossas coisas e agora nem um quintalinho tenho para plantar nada. Era muito mais complicado, é verdade, e não havia grandes dinheiros, mas a gente vivia melhor. Digo tanta vez às minhas filhas: no tempo do Salazar - ele não prestava para nada que ele também fez aos portugueses o que o diabo quis - mas a gente vivia melhor. Agora, reformada como eu sou, recebo 182,5€ e com esse dinheiro pago as contas, mas e comida para comer? Como é?! Está difícil, muito difícil. Os meus filhos estão desempregados, não há trabalho, têm o 12º ano e tudo, mas não sei para quê!” diz-me ela num tom zangado.Sobre o luto demarcado no negro veste da cabeça aos pés, disse-me que tentou "levantar o luto" após 7 anos do falecimento do marido: “ele foi o meu primeiro noivo, o meu marido e fiz tudo o quanto podia por ele até a hora da sua morte.... mas depois faleceu o meu filho há 2/3 anos e agora não tiro mais o preto. Podemos perder um marido, mas um filho? Fico para o resto da minha vida de luto, perder um filho é perder tudo... gostava muito do meu marido, mas o meu filho, Meu deus.. ao menos tenho os meus netinhos e é o que me dá alguma felicidade. E a vida continua, tem de continuar”, diz-me ela.Desculpe-me por ter interrompido a sua lida da casa, e obrigado. Tudo de bom para si, D. Madalena.

Ponta Delgada. 28 de Fevereiro de 2016
Rui Soares