Nélia Aragão. Quando conhecia a Nélia e expliquei-lhe o projecto ela prontificou-se a participar mas disse-me logo com uma gargalhada: “não sabes que não se pergunta a idade a uma senhora?”, e lá continuamos a conversa sem eu saber a idade dela. É uma mulher numa profissão de homens, taxista há 3 anos conta que “domino muito bem a profissão e hoje em dia temos cada vez mais mulheres em profissões de homens e nós mulheres temos de ser respeitadas porque somos livres de escolhermos a profissão que quisermos, e eu até gosto muito de conduzir”, “na altura que tirei a carta nunca pensei que viesse para uma profissão destas, de conduzir diariamente e até quando surgiu esta ideia, tinha algum receio, não estava a vontade para conduzir outras pessoas, mas sentia-me preocupada em ter que levar pessoas ao lado, o que será que elas diriam de mim, como taxista, os homens, porque como sabemos os homens acham sempre que nos não sabemos conduzir, pensei que ia ser algo muito chato, e você sabe que nós aqui levamos qualquer pessoa, e ficava preocupada mas sabes, foram apenas 15 dias se tanto e depois passou-me.” Sobre a sua vida disse que: “Tive várias profissões mas antes de enveredar por ser taxista estava desempregada. Eu e o meu ex marido tínhamos este táxi e uma empresa de turismo e por ironia do destino, foi necessário um condutor para o táxi e fiquei a gostar muito, mas lá está, no inicio fiquei apreensiva, com o que iam dizer, uma mulher no meio dos homens, na praça, e ainda me lembro nos primeiros dias, as pessoas passavam a conduzir e a olharem por ver uma mulher num táxi, principalmente os homens, na altura estava meio coisa mas tinha o apoio do meu ex marido e lá ultrapassei tudo.”
“E hoje em dia estou muito satisfeita, comecei a gostar muito, e hoje em dia está difícil de arranjar emprego e nem penso em mudar, as pessoas começaram a gostar do meu serviço, já tenho os meus clientes, e hoje em dia não vou mudar, eu gosto do que faço, e sabes nós aqui dentro somos de tudo um pouco, medicas, psicólogas, conselheiras, amigas, etc. Todos aprende-se algo diferente nesta profissão e sabes, nem no futuro acho que vou mudar, sou uma pessoa feliz, tenho trabalho, saúde, família, amigos e tenho a certeza que daqui a 10 anos acho que vou estar aqui, porque gosto tanto desta profissão.” Contou-me ela sempre com um sorriso na cara. Sra Nélia, foi bastante divertido e que continue sempre com este sorriso na cara.

Lagoa. 22 de Janeiro de 2016
Rui Soares