Amadeu Ramos, 79 anos - Nasceu em Trás os Montes mas veio para Lisboa trabalhar com cerca de 25 anos num armazém, era responsável pelas cargas e descargas.
É casado há 52 anos e desse casamento resultou um filho que já o presenteou com dois netos. “A melhor coisa que me aconteceu na vida” disse-me.
Encontrei-o num jardim. A presença dele em Lisboa, neste momento, é sazonal. No verão vai para a sua terra e no inverno vem para Lisboa, diz que a sua terra é bastante fria então vem para Lisboa passar o inverno por ser mais ameno.
Com o aproximar das eleições presidenciais, o tema veio à conversa e o Sr. Amadeu recordou os tempos de Salazar. “Erámos conhecidos, falei algumas vezes com ele. Tinha coisas boas e más mas no tempo em que ele estava no poder havia respeito, lealdade e disciplina, agora nada”.
Em conversa falou dos pais e aí disse-me que a pior altura da sua vida foi quando os pais faleceram. "Fui criado com o meu tio e com a sua mulher mas quando voltei para casa dos meus pais criámos uma enorme ligação, inexplicável, e quando faleceram o meu mundo caiu-me aos pés. Ainda não tinha mulher então passei por tudo sozinho, apesar dos meus 6 irmãos... Estamos todos longe, há muito tempo que não sei de alguns deles.” Derivado da perda dos pais o Sr. Amadeu desenvolveu uma depressão nervosa. Está medicado mas diz que os medicamentos são bastante fortes e que por vezes está a andar na rua e tem umas enormes tonturas. Aí, se não se agarrar a alguma coisa imediatamente cai, estando sujeito a aleijar-se a sério.
A sua mulher, já com 87 anos, tem graves problemas de saúde. Mal sai de casa ou mesmo da cama e é o Sr. Amadeu que faz a maior parte das coisas em casa, vai às compras, cozinha e cuida da sua mulher.
É um homem realizado e pouca coisa deixou por fazer mas no fim, já depois de ter tirado a fotografia, confessa-me que “Só tenho pena de uma coisa... Não ver durante muito mais tempo os meus netos crescerem”.

Lisboa, 22 de janeiro de 2016.
João Porfírio