Micael Dias, 21 anos. O que me fez parar e abordar o Micael foi a cor do vestuário que, percebi ao longo da conversa, traduzia um pouco o seu actual estado de espírito. “A minha infância não foi nada fácil. Pertencer a uma família que não tinha possibilidades, em que a minha mãe não podia trabalhar e apenas o meu pai conseguia trazer algum dinheiro para os seis filhos, é algo que muitos passam mas que não falam”. Micael, pelo contrário, não tem qualquer problema em falar nisso. “Na escola, era descriminado por não ter roupas de marca ou brinquedos como os outros. Enfim, as crianças conseguem ser muito cruéis. Mas consegui ultrapassar tudo isso. O problema foi aos 18 anos, naquela altura tinha quase 100 quilos. E gozavam muito comigo. E, eu, não me sentia bem com o meu corpo. Até que tomei medidas drásticas e andei durante 2 meses apenas a consumir líquidos. Fiquei com pouco mais de 61 quilos e o início de uma anorexia”. Confessa que ainda entrou em depressão por se responsabilizar pelo que fez para emagrecer, mas conseguiu recuperar. “Hoje, sinto-me muito bem. Saudável. Felizmente estou a conseguir ultrapassar isso tudo”.
Antes que eu continuasse a fazer perguntas, passou ele a querer saber mais sobre o projecto. Diz que tem uma vaga ideia de nos ter visto na televisão e confessa, que um dos sonhos dele, era assistir a um programa ao vivo. “Gostava muito de ir assistir ao Você na TV. São os que gosto mais de ver e ela é muito gira”. Explico-lhe o que me fez abordá-lo. E responde: “Adoro cor. Transmite alegria e, apesar de tudo, hoje sou uma pessoa alegre. Mesmo quando me confundem com um árabe”.
Leiria, 31 Janeiro 2016
Rui Miguel Pedrosa
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