José Conteiro, 67 anos. Reformado da Marinha, onde prestou 22 anos de serviço efectivo. “Fui para as Forças Armadas porque queria fazer a tropa e vir-me logo embora, mas acabei por ir ficando”, conta. José deixou a Armada por causa de um acidente em serviço. “Na realidade, até é uma situação caricata. Hoje posso achar piada, mas na altura não achei. Caí numa escada conhecida por ‘quebra-costas’ mas, no meu caso, parti a perna”, recorda. Foi militar durante o período revolucionário. “Recordo-me de algumas histórias da altura, mas uma das que mais me marcou foi quando tínhamos ordens para revistar todas as viaturas suspeitas. Avistámos um autocarro e, qual não foi o nosso espanto, entrámos na viatura e era só freiras”. Pergunto-lhe o que procuravam. “As nossas ordens eram para procurar armas. Por isso, é que achei piada ao autocarro que transportava freiras. Sabe que, naquela altura, tínhamos essas ordens porque ia haver uma manifestação a favor do Spínola. E tínhamos de evitar a violência”. Peço para me falar sobre a vida que teve em alto-mar e como tinha vivido a primeira experiência em missão numa fragata. “Embarquei em três fragatas que iam, sobretudo, para a zona de África. Na primeira vez, senti-me mal. A nossa barra marítima é muito agitada. Mas, felizmente, depois o alto-mar é tranquilo. Recordo-me muito bem. Havia o que chamávamos ‘mar-azeite’: As barbatanas dos tubarões a furar o cimo da água e os reflexos durante o pôr-do-sol. Era lindo". E, abrindo um largo sorriso, diz: “Garantidamente que irei voltar, um dia. Tenho saudades do mar. Ainda irei voltar… mas num cruzeiro”.
Alcobaça, 10 Janeiro 2016
Rui Miguel Pedrosa
0 Comentários