Carla Medeiros, 36 anos. Conheci a Carla num dia muito chuvoso, e tanto a conversa como a fotografia foram feitas à chuva. Ela prontificou-se a participar, mas apenas com a condição de a sua cara não ser visível na fotografia: “não gosto nada que me tirem fotografias, odeio. Não gosto mesmo, desculpa”. Mesmo assim, continuamos a conversa. Sendo uma realidade muito demarcada nos Açores, a Carla é uma das muitas pessoas que está à procura de emprego: “dou dias em algumas casas, mas só por enquanto. Espero arranjar outro trabalho no futuro e ando à procura, não podemos cruzar os braços. Sempre fui doméstica, mas gostava de fazer outras coisas... quando era pequenina, o meu pai gostava que eu fosse polícia mas nunca foi o meu forte. Gosto muito de crianças, gostava talvez tomar conta de crianças... ser educadora, talvez”. Durante toda a conversa, a chuva forte persistia e fazia frio à beira mar onde estávamos, mas diz-me que adora vir aqui e faz questão de ver o mar todos os dias: “ sabes, gosto de vir aqui para aliviar a tensão, é muito bom, o ar puro da natureza é bom. Uma pessoa tem tanta preocupação como a busca de trabalho... isso tudo é uma pressão muito grande. Sabendo que temos filhos e temos de meter comida na mesa... por isso é bom vir aqui ver o mar, a brisa ajuda a aliviar todas estas tensões". Fala da importância de não perder a esperança, porque “o que temos de saber é que o caminho é para a frente; o passado já foi, é seguir em frente. E o mais importante que tudo é não cruzar os braços - é o que digo quando falo com colegas minhas - nunca se pode cruzar os braços, tenho fé que vai aparecer trabalho, e eu procuro. Tenho essa fé e uma esperança que vou conseguir alcançar isso. E nada melhor que o nosso mar, o nosso horizonte, a nossa brisa que dá uma força tão grande. O mar tem muita força e eu busco um pouco a sua força”, diz-me ela sorridente e cheia de convicção.
Antes de nos despedirmos, voltou a dizer que não queria aparecer na fotografia e pediu-me desculpa por isso. Segue depressa para casa porque “a minha sogra ainda há-de dizer estou desaparecida!”.
Boa sorte para si, Carla. Ribeira Grande. 23 de Janeiro de 2016
Rui Soares
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