Armando Borges, 78 anos. Natural de Aguda, Figueiró dos Vinhos. “Ó amigo, tenho tanto tantas coisas para contar que a minha vida dava um romance escrito”. Foi assim que o senhor Armando cativou a minha atenção. Sorri e pedi para começar pelo início. “Sabe, na província todos começamos por trabalhar no campo, desde muito novos. O meu pai tocava em bailes mas guardava o instrumento tão bem que ai de algum filho que lá mexesse. Mas eu passei tanto tempo a olhar para como ele o deixava, como outro tanto a tocar às escondidas. Desde que o deixasse como ele o tinha deixado”. Mais tarde, durante um baile, com a ajuda de um vizinho, convenceu o pai a deixá-lo tocar. “Ele deixou e correu tão bem que começamos sempre a tocar juntos, nos bailes. As pessoas aplaudiram e nem dançaram porque acharam piada ao miúdo - na altura eu tinha 9 anos - a tocar tão bem”. Perguntei como tinha aprendido, respondeu que aprendeu tudo de ouvido. “Sabe, na realidade eu já sabia tocar melhor que ele. Mas eu queria evoluir e aprendi a tocar outros instrumentos. E tocamos juntos nos bailes até aos 34 anos”. Aí chegado, resolveu ir trabalhar para França, onde esteve 12 anos. “Saí de cá sem dizer nada a ninguém. Fui e pronto. Para me separar da minha mulher. Eu achava que tinha uma vida bonita. Mas ela começou a beber. E, naquela altura, parecia que era normal os homens baterem nas mulheres. Mas eu nunca iria fazer isso. Fui embora e resolvi assim o problema”. No regresso a Portugal, os filhos pediram para se juntarem novamente, porque ela tinha deixado a bebida. “Apenas aceitei porque gosto imenso dos meus filhos. Efectivamente ela tinha mudado. Recomeçamos a vida de novo, mas 4 anos depois, foi-lhe diagnosticado cancro e faleceu 6 meses depois. O tempo que voltámos a estar juntos, fomos felizes”. E terminou a dizer: “Obrigado pelo seu tempo, eu sei que sou um fala-barato... acho que a vida das pessoas dava um estudo”.
Leiria, 21 Janeiro 2016
Rui Miguel Pedrosa
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