Noé T. 11 anos. Quando encontrei o Noé, chamou-me logo à atenção o piercing que tinha, e este disse-me logo: “o senhor já tirou um retrato ao meu amigo e ele esqueceu-se do nome do site para ir ver”. Comecei a rir e lá lhe dei um bocado de papel com o nome do projecto. O Noé já tem um telemóvel: “uso apenas para falar com a minha mãe”, diz ele envergonhado, dando a ideia de que, para si, o telemóvel é uma forma de pertencer ao mundo dos adultos. “Estou na 4ª classe mas estou farto da escola, gosto mais ou menos da escola mas é sempre a mesma coisa, os professores fazem sempre a mesma coisa, é muito chato, senhor”, diz ele. Disse-lhe que as coisas na escola vão melhorar e que vai aprender coisas diferentes daqui para a frente, mas acho que não o deixei muito convencido: ”senhor, a escola é mesmo chata, quando tiver idade quero ir trabalhar, ter dinheiro, arranjar uma vida”, diz-me de forma peremptória. Perguntei-lhe pelo piercing, ao que me responde que a cunhada é que o fez; “mas a minha mãe deixou, o meu pai quando chegou a casa perguntou o que era isso e eu disse: um piercing!, a mãe deixou e o meu pai então não disse nada”, conta ele cheio de orgulho. Ainda não sabe o quer ser quando for grande: “Poooo senhor, ainda falta tanto tempo!” exclamou, ele. Afastamo-nos a rir porque lhe disse para aproveitar enquanto não fica grande; “vou jogar à bola agora!”, gritou enquanto se afastava para ir aproveitar o resto das suas férias.
Ribeira Grande. 27 de Dezembro de 2015.
Rui Soares
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