Ad Code

Responsive Advertisement

Manuel Arménio L.

Manuel Arménio L. 60 anos. Depois de um dia fechado em estúdio a fotografar, entrei cansado e já tarde num café, onde dei de caras com o Arménio: “é como sou conhecido na freguesia da minha mãe” disse-me ele, enquanto escrevia; “de vez em quando escrevo umas tolices”, diz ele a tomar o seu Jameson. Por sorte, o Arménio é da minha ilha preferida dos Açores: a ilha do Pico. “Ah aquela montanha não é? São restos da Atlântida”, diz a rir. Depois de me apresentar e apresentar este projecto, a conversa continuou com “eu sou do Pico mas não sou do Pico. Como diz Bernardino Ribeiro, menina e moça, novo levaram-me longe da minha terra”. Emigrou para o Canadá com 7 anos, onde se tornou advogado, mas voltou porque não se sentia em casa, e "os Açores são um lugar especial”. “Quando tinha 50 anos, resolvi ser português, abandonei tudo e fui para o Porto, depois Oeiras e finalmente Pico. Estou a consertar a casa dos meus avós em Santa Lúzia, ao lado do vinho verdelho, restaurando-a mas de uma forma antiga, porque não gosto de betão nem de cimento, o que está a causar um problema, toda a gente quer que coloque janelas de alumínio e eu não quero, até a telha eu reciclei, comprei a telha de uma adega de um bispo e recicleia”. Conta-me que hoje em dia não é advogado, nem está reformado porque "o gajo que se reforma é para morrer”. Diz-me que esta mesma casa é uma galeria e uma biblioteca de nome Paim, porque é o nome de família da Avó; “É algo anarquista, é algo como 'trás um livro, leva um livro' e a inauguração foi feita com caldo de peixe”. Conhecedor e estudioso da História judaica em Portugal, conta-me que publicou um livro sobre a primeira mulher queimada pela Inquisição, que era uma micaelense vinda de Viseu: “sim, porque não há ninguém de gema açoreano, não havia povo cá”. O livro é sobre Maria Lopes, de Ponta Delgada, queimada em 1586. Daqui em diante, tudo o que quer é ler e escrever, pois é o que o deixa feliz. A meio da conversa, respondeu-me a algo com um “nice”. Arménio - como é conhecido na freguesia de sua mãe - a nossa conversa foi muito “nice”, obrigado e, mais dia menos dia, estou na ilha do Pico para te visitar na Galeria Paim.

Ponta Delgada. 15 de Dezembro de 2015.
Rui Soares


Enviar um comentário

0 Comentários

Ad Code

Responsive Advertisement