José S. 49 anos. Encontrei o José, mais conhecido como “Marrachinho” (apelido de família), enquanto limpava a sua casa de aprestos devido ao mau tempo que assolou a ilha de São Miguel. Quando me viu com uma câmara, disse-me logo: “isto agora tá bom, mas isso foi um pesadelo, perdemos tudo o que estava dentro das casas... mas a vida continua e já nos estamos a preparar para ir para o mar". Quando lhe expliquei o projecto, prontificou-se logo a falar comigo. Proprietário do Alda Maria, um barco usado na pesca do atum e na pesca de palangre (pesca de fundo), este conta-me que comprou o barco em segunda mão mas o nome ainda é o mesmo do antigo dono, porque "sabes, dizem os antigos que quando o nome cai no barco, não se muda, senão muda-se a sorte do barco”. Vindo de uma família de pescadores, e sendo o mais velho de 11 irmãos, aos 12 anos - depois de repetir 4 vezes a 4ª classe - “só queria saber do mar”, e começou desde aí a trabalhar com o pai. No entanto, num tom de tristeza conta-me que está cada mais difícil a vida de pescador: “Depois de 15 anos como mestre com o meu pai, hoje em dia tenho o meu próprio barco, mas não há peixe, uso cerca de 5/6 km de aparelho e já não se apanha nada, mal dá para os gastos do barco. Existem demasiados barcos nesta arte, não há peixe para todos”, continua ele com um semblante demasiado triste. "Além disto levei muito “coice” durante a vida, mas agora está tudo a recompor-se, estou a começar uma vida de novo”, arremata. Quando lhe perguntei pela família, disse-me que casou com a mulher da sua vida: “era minha vizinha, via-a todos os dias quando ia e vinha do mar, namoramos durante 8 anos e agora este mês, no final do ano, fazemos 27 anos de casados”. Foi um retrato difícil de fazer, porque tinha sempre vontade de rir e os seus olhos quase que 'desapareciam' com o sorriso, mas foi um óptimo momento. Combinámos uma ida juntos à pesca do atum no próximo Verão. Depois de lhe desejar muita sorte na pesca, retorquiu: “basta muita saúde para todos”, e cada um seguiu o seu caminho. 

Lagoa, 21 de Dezembro de 2015.
Rui Soares