António Pereira, 82 anos, natural de Leiria. Desta vez, o meu ‘estranho’ é uma figura conhecida, em Leiria e arredores, no mundo das bicicletas e motas. Há décadas que quando se fala em bicicletas, todos se referem ao ‘Senhor da Rua Direita’. Até eu, quando entrava em pânico por ter um pneu furado, o tinha como o meu salvador! A nossa conversa aconteceu, como não poderia deixar de ser, na sua icónica oficina. Aprendeu a gostar de bicicletas e, uma boa parte do que sabe sobre elas, diz ter aprendido “sozinho”. A sua atividade começou na altura em que “apenas os ricos tinham bicicletas”. Os que queriam aprender a andar tinham de alugar. “Custava 3 escudos à hora”, recorda. Abriu a sua oficina, motivado pelo pai, quando tinha 18 anos, e depois de muito ouvir as palavras que ainda hoje recorda bem: “se queres trabalhar, abres uma oficina tua, porque se há mercado para os outros, há para ti também”. Houve momentos em que trabalhou das 07h00 à meia-noite e chegou a ter 4 funcionários. Mas o negócio foi caindo e, com o tempo, foi-se obrigando a si próprio a ir para a oficina, mesmo sem ter trabalho. Mas arranjava sempre algo para se entreter, nunca perdendo a esperança que fosse surgindo “algum trabalho”. Hoje, os clientes escasseiam mas aparecem os amigos “que ajudam a passar o tempo”. Não esconde o desânimo e diz mesmo já ter decidido que “infelizmente, dentro de 1 ou 2 meses, acabo por sair daqui: aumentaram a renda para valores que não consigo suportar”. Emocionado, triste e com um olhar de saudade, diz: “sabe, sair daqui é-me muito difícil. Ter de abandonar este sítio onde passei mais de 60 anos... Vai custar muito!”. Insisto para que não desista. E acaba por admitir: “acho que não vai ser a mesma coisa sem a minha oficina”, assegurando que não pretende parar de arranjar bicicletas. “Nem que arranje um cantinho em casa para me entreter”.
Leiria, 21 Dezembro 2015.
Rui Miguel Pedrosa
Leiria, 21 Dezembro 2015.
Rui Miguel Pedrosa
0 Comentários