Filipe M. 33 anos. Quando entrei na Barbearia Martins, o Filipe disse-me logo que estava cheio (deve ter sido pelo tamanho da minha barba). Expliquei o que estava lá a fazer e o conceito do projecto; “eu não tenho jeito para essas coisas”, exclamou logo, mas lá a conversa fluiu. Começou por contar-me que tudo o que aprendeu foi na tropa: “ as pessoas dizem que a tropa é para se aprender os maus vícios, mas eu digo que não, foi lá que me tornei uma melhor pessoa, um melhor cidadão, a tropa ensina-nos a cidadania. Há 12 anos atrás, porque o Sr. Barroso já não podia das pernas, alguém tinha de o ajudar e lá fui eu, e ainda bem, porque aprendi uma arte, acabando por ficar como barbeiro no quartel e depois, já como civil, continuei a trabalhar, depois é que vim para aqui, mas sempre que eles precisam de mim, eu vou lá, a tropa deu-me tudo”, conta-me ele, nunca parando de trabalhar. Falamos sobre o facto de os barbeiros e os cabeleireiros serem locais de de coscuvilhice; “as pessoas dizem isso mas eu não gosto, pelo menos aqui, temos de ser como os médicos, a confidencialidade é a mais importante, nunca podia trair a confiança dos meus clientes” - e são alguns, a considerar pela fila à porta. “O corte de cabelo mais difícil que fiz foi a um careca”, disse-me com uma gargalhada; "Também já fiz uma vagina na barba de um cliente e símbolos como o da puma na cabeça de outro”, continuando a rir, mas sempre a trabalhar. Falamos também sobre os cortes 'modernos': “estes rapazes trazem as fotos nos telemóveis, mostram-me coisas tiradas da internet e querem os cortes modernos que vêm na TV, mas tudo se faz, tudo se aprende e ainda não houve um que não conseguisse fazer”. Obrigado Filipe por partilhares comigo um bocado da tua vida no dia do meu aniversário.
Lagoa. 19 de Dezembro de 2015.
0 Comentários