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Paulo Alexandre, 52 anos

Paulo Alexandre, 52 anos - conheci o Paulo numa comunidade terapêutica para toxicodependentes, ao contrario de outros utentes o Paulo não teve qualquer problema em ser fotografado e em contar a sua história "Tinha 15 anos quando comecei a fumar charros e depois agarrei-me a tudo o que era droga, cheguei a gastar 100 contos por dia em droga. A minha vida era a heroína e a cocaína, o meu dia a dia era arranjar dinheiro para poder comprar droga, saciar o vicio e depois dormia onde calhava, até dentro de bidões dormi. Fazia muitos assaltos a casas e outras coisas, também trabalhava mas o dinheiro não chegava. Há uns anos eu e um amigo fizemos um assalto, até tinha corrido bem, tínhamos 5000 contos em dinheiro, mas apareceu a policia e fomos baleados, eu levei nove tiros na perna direita e o meu amigo também ainda levou um ou dois tiros, mas conseguimos fugir, a policia ainda disparou para o carro e se acertasse no deposito lá íamos nós pelo ar. Não podíamos ir para o hospital senão éramos presos e mesmo ferido ele conseguiu levar-me ás costas até ao 6º andar onde eu vivia. Estive assim em casa um ano e meio, ia desinfetando e tinha os ossos da perna todos partidos mas acho que a droga que continuava a consumir me anestesiava as dores. Um dia uma tia minha achou que já chegava e levou-me até ao hospital, bati-me que tinha ido comprar droga e me tinham baleado mas com anestesia que levei na operação os médicos foram falando comigo e eu acabei por lhes confessar tudo, mas deve ter sido pelo sigilo médico não fui denunciado à policia. Essa perna felizmente ficou boa dentro do possível e assim que recuperei voltei à mesma vida, drogava-me tanto que já não encontrava as veias, um dia dei um caldo de cocaina numa variz na outra perna, aquilo correu mal e infetou, mas mais uma vez andava completamente anestesiado e deixei a perna apodrecer, quando finalmente fui ao hospital, viram que até bichos lá tinha, fizeram-me várias operações e por sorte a perna não teve de ser amputada. Sou seropositivo, sabia que um dia ia apanhar por causa da troca de seringas. A minha ultima companheira morreu ao meu lado, era também toxicodependente e seropositiva, de um dia para o outro ficou acamada e depois deixou de tomar a medicação, foi ficando muito fraca e um dia acordei e ela tinha morrido ao meu lado. Sabia que tinha batido no fundo do poço e dali só mesmo a morte. Decidi ir à procura de ajuda e apesar de ser um longo e doloroso processo há cinco anos que não consumo nada, nem sequer bebo álcool." Depois de o ouvir atentamente perguntei-lhe qual era a sua mensagem para quem consome "Eu digo a todos para procurarem ajuda, fazerem tratamento e livrarem-se disto o mais depressa possível" Em relação ao seu futuro espera em breve reformar-se por invalidez "sei que vai ser uma miséria de reforma mas também não posso trabalhar assim e é fruto da vida que tive".

Sintra, 18 de agosto de 2016
Miguel A. Lopes


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