Rossana Silva, 23 anos; Carolina Marto, 20 anos. Conheceram-se na universidade e são namoradas. Admitem que na escola o início da relação foi atribulado, porque era notória alguma maldade por parte de alguns colegas de turma. Mas “ao fim de algum tempo, vieram pedir desculpa e hoje aceitam, na boa. Até dizem que ficamos bem juntas”, revela Rossana sorrindo. Esclarecem que, nessa altura, o mais complicado foi contar aos pais. E apenas ganharam coragem para o fazer depois de terem começado a namorar. Quando lhes pergunto quem tinha dado o primeiro passo, olham uma para a outra, e mergulham num silêncio introspectivo. Depois, Rossana adianta-se e responde que tinha quase a certeza que tinha sido ela a dar o primeiro passo. “Ela é mais introvertida e gosta do seu espaço. Por isso é que eu não pude ir logo a abrir. Deve ter começado com conversas mais carinhosas”. “Pois, senão afugentava-me”, contrapõe Carolina, como que completando a frase. Em seguida, quis saber como começaram a sentir que a sua orientação sexual seria diferente. “Sempre senti que era diferente. É normal que a sociedade queira incutir as orientações, mas ao mesmo tempo devem respeitar quando são diferentes. E, na adolescência, tive a certeza. Creio que tive a certeza imediatamente depois de ter conhecido alguém”, confessa, Rossana. Para Carolina, foi ligeiramente diferente. “Devia ter mais ou menos 14 anos. Naquela altura tinha dúvidas nas orientações. Mas, naquela idade, na fase das experiências, acabei por experimentar e percebi que prefiro raparigas. Mas acho que dou para os dois lados”, confessa, com um sorriso envergonhado. Sendo que ambas são bastante novas, quis perceber como pensam na relação a longo prazo e, eventualmente, as suas opiniões sobre a maternidade. “Eu quero ter filhos. Mas sei que a Rossana não quer”, diz Carolina. E Rossana reconhece que não quer. “Terei de ponderar muito bem sobre o assunto. Tenho irmãos mais novos e sei que são muitas responsabilidades. Mas quando chegar a essa altura, se ela quiser, logo se vê. Afinal, uma relação é feita de cedências de ambas as partes”, confessa Rossana. O assunto remeteu-nos então para as suas opiniões sobre a adopção gay e Carolina responde: “A adopção não tem nada a ver com ser gay ou não. Tem a ver com as condições e uma boa educação”. E Rossana conclui: “Uma família não significa um homem e uma mulher”.
Leiria, 11 Julho 2016
Rui Miguel Pedrosa
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