Odete Duarte, 66 anos. Conheci a D. Odete, quase sem querer quando fui ao estabelecimento dela, mais conhecida como “Detinha” é uma figura conhecida na Ribeira, adorada por todos, chamada de avô porque todos os miúdos da zona. Começou“Sou natural aqui do Porto, mesmo aqui de São Nicolau, sou mesmo daqui, da Ribeira, eu e os meus familiares todos”. “Ser do Porto, é tudo, somos pessoas são muito acolhedoras, comunicativas, não sei, se calhar por toda a minha família ser daqui, faz-me ter um sentimento que não consigo explicar por esta cidade e então por esta zona, nem te conto rapaz”. “a minha vida sempre foi uma vida de trabalho, fui criada debaixo de um balcão” contou ela a rir, continuando a explicar: “os meus pais tinham um talho aqui na Ribeira e fui criada no talho, estudei até ao 4º ano antigo, depois o meu pai faleceu e tive de deixar a escola para trabalhar e ajudar em casa, não fui para o talho porque não percebia nada nem a minha mãe, mas ela despachada como era, agarrou numa cesta com meias, cuecas, etc, e fomos vender para Afurada, e acho que vem daí a minha veia de vendedora, desde de pequenita que vendo”. “Casei com 17 anos, casei nova e tive filhos muito nova, entretanto depois fui vender para o Mercado Chaves de Oliveira, que era o mercado que abastecia o Porto, e estive lá de 78 a 92, em 93 fiquei viúva, passado ano e meio arranjei um companheiro, mas sabes rapaz, não quis casar mais nem ter mais filhos, estivemos juntos 21 anos, mas sabes que fiquei viúva de 21 em 21 ano?!” contou ela com uma enorme gargalhada, “do meu primeiro casamento foram 21 anos e com o meu companheiro estivemos juntos 21 anos também, já viste como é? e depois disto a vida calejou-me e desde aí não faço mais planos, amanhã uma pessoa levanta-se e logo se vê”. “Agora não quero fazer muito mais, quero continuar com isto porque é uma distracção grande para mim, até Deus me dar vida e saúde, e sabes, as pessoas não devem ir pelo desanimo, acho que todos nós temos de lutar um pouco, as pessoas “têm de despir o casaco” e ir a luta, que vão conseguir, se eu consegui, qualquer pessoa pode conseguir, 2 vezes!” disse ela antes de ir atender mais uns clientes no seu estabelecimento na Ribeira. Obrigado D. Odete e boa sorte para si nesta linda cidade.
Porto. 3 de Julho de 2016
Rui Soares
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