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Manuel Pereira, 59 anos

Manuel Pereira, 59 anos. “Sim, falamos na boa. Isso é boa cena. Mas olha que entretanto chega o autocarro e tenho de ir embora”. Foi assim que começou a nossa conversa. Manuel é natural do Barreiro e quando tinha 20 anos decidiu ir trabalhar para a apanha da fruta, em Espanha. “Estive lá uns 15 anos. Também fui pedreiro e nos tempos livres fazia artesanato de rua. Só que, por causa de um problema que tive no tornozelo, acabei por ficar sem trabalho”. Foi quando decidiu ir morar para Leiria e continuar a fazer artesanato. “Aproveitava o Verão para vender as coisas na praia da Nazaré e ainda ganhava uns trocos. Mas, infelizmente, assaltaram a pensão onde eu dormia e levaram-me a mochila onde tinha o material de trabalho. Desde aí, desmoralizei e acabei por desistir”. Confessa que com o tempo, e a idade, se foi tornando cada vez mais difícil encontrar trabalho. “Quando era novo era muito mais fácil, ia arranjando uns trabalhitos. Mas comecei a beber e tornei-me alcoólico. Bebia bué. Agora, estou num tratamento e já não bebo há três meses. E quero que assim continue". Quando lhe pergunto no que trabalha diz entre dentes que é arrumador de carros. “É a única maneira que tenho de arranjar 'guito' para sobreviver. Não quis entrar em negócios escuros e queria estar o mais legal possível. Existem os que preferem roubar do que arrumar carros. Eu não! Vender droga também não é para mim porque é demasiado arriscado. Embora consuma erva desde os 14 anos e não tenho problema em dizê-lo. Faz-me sentir bem. Gosto mais de fumar quando estou em casa do que na rua. As pessoas não têm conhecimento sobre as drogas leves e ainda há bastante censura. Por isso é que, por respeito, não costumo consumir ao pé das outras pessoas”, conta Manuel, revelando que continua a consumir erva porque que é barata. Com a aproximação do autocarro, apenas tive tempo de fazer a fotografia e perguntar se o dia de trabalho já tinha acabado. “Hoje, estive de folga. Não quero estar sempre a arrumar carros para também dar hipótese aos outros. Agora está lá outro no meu sítio. A vida é assim mesmo. Fica bem”, concluiu, despedindo-se apressadamente enquanto se dirigia para o autocarro.

Leiria, 22 Junho 2016
Rui Miguel Pedrosa


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