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Justino Sá, 62 anos

Justino Sá, 62 anos. Já há alguns anos que me recordo de ver este senhor a vender tremoços e “bolo de festa” numa barraquinha à beira da estrada. Confesso que sempre que passo por ali me questiono se costuma ir lá alguém comprar alguma coisa. Decidi parar, e em resposta à minha dúvida, percebi que há sempre gente a chegar e a comprar. “São estes clientes, muitos deles clientes habituais, que ajudam a passar o tempo. E sem terem noção da minha história de vida acabam por contribuir para que eu me sinta bem”, confessa Justino, num notório misto de emoções. Tento perceber um pouco melhor a razão destes sentimentos, explica-me que está agarrado a uma cadeira de rodas e não mexe o braço direito. “Num sábado, dia 25 de Abril de 1981, estava a chegar a casa. Faltavam cerca 300 metros. Veio um carro descontrolado e...”, conta de forma pausada recordando o fatídico dia. Não foi preciso concluir a frase para que se percebesse o que tinha acontecido. “Estive 10 anos em tratamentos e recuperação até ao dia que, finalmente, voltei a trabalhar. Mas...”, diz Justino, dando a entender que algo mais tinha acontecido. E conclui ao dizer que durante umas obras em casa caiu e voltou a ferir a perna que tinha sido magoada no atropelamento. “Durante essa recuperação sofri um AVC que me afectou o braço direito”, conclui. Confesso que até àquele momento, ainda não tinha percebido as limitações físicas do senhor Justino, que me parecia apenas estar sentado na sua banca. “Quando me vi nestas condições apenas me vinham as ideias que andava cá a mais e até cheguei a pensar em ‘acabar’ com isto tudo. Mas estar aqui ajuda-me”, confessa. Fiquei sem reacção e numa tentativa de perceber como tinha superado essas ideias ele responde que a ideia surgiu em forma de brincadeira. “Numa altura em que eu não queria estar parado e queria fazer algo, a médica a meter-se comigo na brincadeira, disse para ir vender tremoços à porta da igreja. Olhe, acabei por achar piada e comecei a fazê-lo. Por isso, é que costumo dizer que estar aqui ajuda-me. E estas pessoas que aqui passam, mesmo sem saberem nada da minha vida, contribuem imenso”, conclui Justino.

Leiria, 16 Maio 2016
Rui Miguel Pedrosa


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