Natural do Senegal, veio para Portugal bastante novo, agora vive e trabalha há 28 anos em Kos, na Grécia, é animador em hotéis tocando com o seu grupo musical, mas diz que faz “de tudo um pouco, fui pai há 5 meses e todo o dinheiro é pouco”. Conheci-o em trabalho mas rapidamente me contou a sua história, merecedora de a incluir neste projecto. Autorizou-me e fomos conversando sobre a sua vida, numa rua estreita de Kos. "Fui para Portugal sozinho porque o meu pai na guerra colonial morreu e a minha mãe nunca quis deixar a terra que os viu nascer. Eu é que não tinha condições para lá continuar, deixei tudo e fui para Portugal" acrescenta ainda que "foi a melhor decisão que alguma vez eu tomei". Em Portugal o João contou-me que chegou a viver na rua e sofreu bastante por ser "preto". "A pior altura da minha vida foi quando cheguei a Portugal, era um misto de sensações, estava feliz por estar em Portugal mas triste por estar sozinho e sentir-me desprotegido... Tinha 17 anos." Começou, com a ajuda de associações de solidariedade, a estudar e mais tarde, depois de passar por diversos ofícios, vai para a área dos táxis e aí voltou a sentir a discriminação no seu ponto máximo. "Era um domingo, lembro-me como se tivesse sido ontem, e alguém fez uma chamada para a central de táxis para apanhar uma senhora perto do Saldanha (ainda se chama assim? diz a rir) e quando chego à morada a cliente veio perto do táxi, pergunta-me se sou eu que a ia buscar e ela responde-me que não ia andar de táxi com um preto...". O João contou-me esta história com um ar descontraído mas relembra que na altura, apesar de não ter mostrado à cliente, ficou bastante incomodado e triste, admite. Conheceu uma grega em Portugal e por essa razão foi viver para a ilha grega de Kos, onde casou e onde também foi pai. "Aqui sinto-me tão mas tão bem Sr. João" disse-me o João com um sorriso enorme no rosto.
Kos, 19 de maio de 2016
João Porfírio
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