Paulo Brito, 42 - Encontrei o Paulo a arrumar carros na rua onde trabalho. "Hoje tenho de aproveitar, é dia de jogo e há mais movimentação de carros, posso ganhar mais algum. Mas olhe, nunca na vida pensei que viria a arrumar carros, a minha mãe se soubesse ía ficar triste. Ela nunca deixou que me faltasse nada! Ela morreu o ano passado em Agosto, tinha 80 anos e eu fiquei desamparado! Cuidei dela até ela morrer, ela tinha diabetes e eu é que ía com ela aos hospitais, ela era mesmo dependente de mim. Ainda hoje ando a ver se encontro o meu rumo e se arranjo algum trabalho". Perguntei-lhe o que fazia antes de ficar desempregado "Estive em Espanha a trabalhar 4 anos na construção civil e ganhava mesmo bem, tirava €3000 por mês, depois voltei e fiz ainda alguns trabalhos, mas tive de deixar tudo para cuidar a 100% da minha mãe". Perguntei-lhe quanto ganhava normalmente a arrumar carros: "Nunca é certo, há dias bons e outros maus, já cheguei a ganhar num dia €50 e já tive pessoas que me deram €5 de uma só vez, deve ser porque não tenho cara nem aspeto de arrumador. Normalmente a minha zona não é esta, mas há muita concorrência e na maior parte são gajos agarrados. Eu felizmente nunca tive nem tenho vícios a não ser o tabaco. Mas gostava de arranjar um trabalho ou mesmo talvez voltar a emigrar, mas só vou se tiver alguma coisa certa, vamos lá ver se aparece alguma coisa para eu deixar isto."
Lisboa, 1 de abril de 2016.
Miguel A. Lopes
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