João Gonçalo, 58 anos. Contou-me que é pescador e armador já há mais de 30 anos na Ribeira Quente: "digo-te que já tive várias vezes quase no fundo, com 6 e 7 marinheiros junto no barco. De um momento para o outro, tens água a mais na casa das máquinas, e enfim, são umas aventuras que vamos tendo. O problema são as nossas famílias em terra, que ficam com o coração nas mãos.”
Hoje o dia não lhe correu de feição, pois tinha acabado de chegar do mar, onde esteve desde as 3 da manhã, e depois de muitas voltas voltaram para casa sem nada. “Hoje em dia o pescador... isso é uma classe a que ninguém liga. Por exemplo, quase todos os dias ligo a televisão e é só ver o gajo da lavoura lá aos gritos, mas a pesca ninguém defende. É a vida", diz resignado.
Com este quadro complicado, já considerou muitas vezes emigrar e procurar uma vida melhor noutras terras, mas a decisão acaba por ser muito difícil; “A família, os filhos, os netos fazem um homem mudar de ideias. Mas essa ideia também já acalmou, já meti os papéis para a reforma, vamos lá a ver. Mas já fiz muita coisa na vida do mar e na vida, na minha freguesia, que agora só penso um pouco em descanso. E não tenho essa coisa da infelicidade, vivo o dia a dia e não tenho aquela ganância para ganhar dinheiro!”. Obrigado, Sr. João.
Ribeira Quente. 28 de Abril de 2016
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