Fábio Gabirro, 22 anos. “Todos os dias me vejo ao espelho. Eu sei quem sou. Sem isto acho que não me irei reconhecer e sentir-me-ei um estranho”. Referindo-se à marca que tem na face, foi desta forma que a conversa com o Fábio me marcou. E tenho a certeza que a vocês também marcará. Esta é a marca de uma cirurgia a que foi sujeito para remoção de um sinal de nascença. “Todo este espaço era um sinal com cabelo o que, na realidade e talvez por ser novo, nunca me incomodou”, descreve Fábio. Faz uma pausa e diz que as crianças são cruéis. E explica: “o problema surgiu quando fui para a escola. Sentia-me estranho. Devia ter 5 ou 6 anos e todos me perguntavam o que eu tinha. E, mais tarde, as outras crianças começaram a gozar comigo. Foi muito complicado”. Fábio interrompe o discurso para revelar que foi criado pela avó. “A minha avó é tudo. É a minha mãe. É o meu pai. É tudo”, afirma, mas adianta, logo depois, que não quer falar sobre isso. Que o dissera apenas para me contextualizar. “Um dia cheguei ao pé da minha avó e disse que queria ser operado. Eu só queria retirar isto”, conta, voltando ao assunto. Em Dezembro de 1999 fez a operação e, sorrindo, conta que passou a passagem de ano no hospital. “Recordo-me que depois da operação me senti diferente. Por um lado, senti-me muito melhor por ter tirado o que tinha a mais. Mas por outro lado, na escola, continuaram a gozar comigo por causa da marca com que fiquei. Mas apesar de tudo percebi que tinha de me acostumar à ideia porque, desde sempre, tive algumas dúvidas que alguma vez fosse ficar completamente sem marcas. Acho que as marcas vão ficar para sempre”, relata. Actualmente sente-se agradecido porque vive e convive perfeitamente com o que tem. “Tenho noção que, naquela época, éramos crianças inocentes e não entendíamos os actos que praticávamos. Felizmente que crescemos. E agora sinto-me bastante grato porque muitos dos que gozavam antigamente são agora meus amigos. E, com o tempo, esta marca foi-se tornando a minha imagem de marca”, diz Fábio sorridente.
Santarém, 23 Abril 2016
Rui Miguel Pedrosa
0 Comentários