Raquel Pereira, 32 anos - Encontrei a Raquel a visitar o Cabo Girão na Madeira, chamou-me à atenção o seu sorriso de medo a visitar a plataforma que tem fundo de vidro, que está a 589 metros do nível do mar, e não vou mentir que o seu lenço na cabeça também me chamou à atenção.
Quando a abordei disse-me logo a sorrir "Ah, apanhou-me num bom dia! Faço anos hoje! Realmente nada é por acaso!" Sobre a sua vida disse-me: "Há dois anos iniciei uma luta. Quando tinha 29 anos foi-me diagnosticado cancro da mama, mas como digo, não foi um problema de saúde mas sim um desafio que me apareceu, e felizmente está controlado." Perguntei-lhe o que tinha sentido quando soube "Quando o médico me disse fiquei preocupada foi com a minha mãe, ela já tinha tido um ataque cardíaco à minha frente e o meu medo era por ela, não tanto pelo que tinha acabado de saber. Na altura o médico deu-me pouco tempo de vida, no máximo dois anos", e a sorrir disse-me "portanto já estou fora de prazo! Sou terrível, só vou morrer quando eu quiser e não quando eles quiserem!" Perguntei-lhe como tem sido esta fase da sua vida e como tem enfrentado este desafio "Sinto que tenho andado a 1000 à hora, a Raquel de há dois anos não é a Raquel de hoje, passei de negativista nata a otimista eufórica! Vivo um dia de cada vez, amanhã não sei e o ontem já foi! A minha solução foi sorrir, a cada problema sorrir! Claro que tem sido um processo difícil, acabei de fazer 16 sessões de quimioterapia, e é a segunda vez que faço; da primeira vez foram 29 sessões, por isso ainda estou um pouco inchada e voltou-me a cair o cabelo." Depois ainda me disse, e mais uma vez a sorrir "Da primeira vez que me voltou a crescer o cabelo não me estava a habituar e rapava o cabelo, e são só vantagens, sem cabelo não é preciso champô, nem secador, nem pentear!" Obrigado Raquel!!!
Cabo Girão, Madeira, 11 de Março de 2016.
Miguel A. Lopes
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