Sameer Hamd - 20 anos
Encontrei o Sameer no interior da Estação Central de Comboios de Hamburgo. Estava a olhar para os comboios a chegarem e a partirem. "Estou a ver as pessoas a chegarem de vários países e estou-me a lembrar de quando eu cá cheguei".
A história deste jovem é igual a tantas outras com quem me cruzei mas com uma (muito) triste particularidade. Os pais faleceram porque na rua de sua casa estava um carro cheio de explosivos e "por volta das 10:28h da manhã a bomba explodiu" eu pergunto como é que até dos minutos tem tanta certeza e se lembra. Responde-me que "eu tinha saído de casa às 10:20h para ir para a universidade, ouvi a expulsão e fui a correr para casa, no meio de tanto pó foi muito complicado mas quando cheguei a minha casa estava completamente destruída. Haviam pessoas cheias de sangue, aos gritos e eu vi os pais ali... Sem vida". "Sem rumo e sem nada a perder decidi fugir, mais dia menos dia era eu".
Começou então a sua viagem para a Europa a 28 de agosto de 2015. Chegou à Alemanha a 2 de outubro mas até aqui chegar passou frio, fome e dormia cerca de 2h por dia. Veio sozinho mas durante a viagem juntou-se a uma família que entretanto nunca mais os viu "separaram-nos na Croácia, quando estavam a chegar autocarros para nos levar para Viena". Eu próprio assisti, em setembro, a esta situação que o Sameer me descrevia. Chegavam autocarros e ali eram separadas famílias e amigos, eram levados e muitas das pessoas nunca mais se voltavam a encontrar porque cada autocarro ia para um local diferente.
Agora o Sameer espera construir a sua vida "apesar de ter só 20 anos quero ser alguém na vida, seja aqui ou em qualquer outro lugar do mundo".
"Tens pais não tens 'John'? Mandas-lhes um beijinho, eu não consegui dar sequer um abraço ao meu pai e um beijo à minha mãe porque estava atrasado para a universidade".
Sameer... Obrigado. A maior sorte do mundo.
Hamburgo, 21 de fevereiro de 2016.
João Porfírio
Encontrei o Sameer no interior da Estação Central de Comboios de Hamburgo. Estava a olhar para os comboios a chegarem e a partirem. "Estou a ver as pessoas a chegarem de vários países e estou-me a lembrar de quando eu cá cheguei".
A história deste jovem é igual a tantas outras com quem me cruzei mas com uma (muito) triste particularidade. Os pais faleceram porque na rua de sua casa estava um carro cheio de explosivos e "por volta das 10:28h da manhã a bomba explodiu" eu pergunto como é que até dos minutos tem tanta certeza e se lembra. Responde-me que "eu tinha saído de casa às 10:20h para ir para a universidade, ouvi a expulsão e fui a correr para casa, no meio de tanto pó foi muito complicado mas quando cheguei a minha casa estava completamente destruída. Haviam pessoas cheias de sangue, aos gritos e eu vi os pais ali... Sem vida". "Sem rumo e sem nada a perder decidi fugir, mais dia menos dia era eu".
Começou então a sua viagem para a Europa a 28 de agosto de 2015. Chegou à Alemanha a 2 de outubro mas até aqui chegar passou frio, fome e dormia cerca de 2h por dia. Veio sozinho mas durante a viagem juntou-se a uma família que entretanto nunca mais os viu "separaram-nos na Croácia, quando estavam a chegar autocarros para nos levar para Viena". Eu próprio assisti, em setembro, a esta situação que o Sameer me descrevia. Chegavam autocarros e ali eram separadas famílias e amigos, eram levados e muitas das pessoas nunca mais se voltavam a encontrar porque cada autocarro ia para um local diferente.
Agora o Sameer espera construir a sua vida "apesar de ter só 20 anos quero ser alguém na vida, seja aqui ou em qualquer outro lugar do mundo".
"Tens pais não tens 'John'? Mandas-lhes um beijinho, eu não consegui dar sequer um abraço ao meu pai e um beijo à minha mãe porque estava atrasado para a universidade".
Sameer... Obrigado. A maior sorte do mundo.
Hamburgo, 21 de fevereiro de 2016.
João Porfírio
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