Pedro Maria Carreiro, 55 anos. Conheci o Vigário Paroquial Pedro Maria quando este ia tratar de reciclar o seu lixo. Comecei por lhe perguntar - e talvez a pergunta mais evidente - sobre o momento em que sentiu o chamamento ao sacerdócio: "Em pequeno não sei se queria ser padre... aliás eu queria e não queria, tinha muita coisa para fazer” disse-me a rir. Conta que era um jovem muito "festeiro" e que, quando começavam os bailes de Carnaval na ilha, era sempre o primeiro a chegar às festas e muitas vezes o último a sair. No entanto, uma decisão muito importante marcou a sua vida e o seu futuro: "Há 30 anos fui de romeiro, não para rezar mas para parar e pensar... e no fim da romaria descobri a resposta para a minha vida. Na altura trabalhava como bancário e tinha uma namorada... Foi difícil explicar à minha namorada. Ela aceitou mas foi difícil para ela... 18 anos depois encontrei-a. Falámos e eu senti o verdadeiro amor... porque ela apenas disse-me que nunca se ia colocar entre eu e Deus, o que para mim foi um murro no estômago. Com isto, vi o que era o verdadeiro amor e costumo dizer que ela é a minha namorada, porque ela teve um amor verdadeiro por mim”, contou-me. Mas quando tomou a sua decisão, foi com muita assertividade: “por volta das 12:30 contei aos meus irmãos da minha decisão, e às 14:00 já estava a embarcar. Os meus amigos quando souberam nem queriam acreditar, e diziam que assim que começassem as folias do Carnaval, eu vinha-me embora. Mas no dia da minha ordenação perguntei-lhes: 'cheguei ao Carnaval ou não??'", conta a rir.
Sobre o estado actual da igreja e do mundo, o Vigário Pedro disse-me que é preciso diferenciar o facto de as pessoas se desinteressarem pela Igreja, do facto de a sociedade moderna querer afastar deliberadamente as pessoas da igreja, "porque não lhes interessa que os jovens tenham uma educação e objectivos morais e cristãos. Se calhar estragam-se muitos negócios com uma educação destas...”
Para finalizar, toma emprestadas as palavras de Santo Agostinho no séc. IV e diz-me: “tu pensas que os tempos antigos foram melhores que o teu tempo, simplesmente porque não os viveste", e que "a verdadeira destruição de Deus, do Homem e da Natureza, começa quando nós nos achamos Deus e olhamos para os nossos irmãos de uma forma egoísta. E quando entramos por aí, na indiferença, já não olhamos, infelizmente, para as outras pessoas de olhos nos olhos." Obrigado pelo seu tempo Sr. Vigário.

Ponta Delgada. 23 de Fevereiro de 2016
Rui Soares