Marta Felix, 26 anos – Encontrei a Marta a participar na Marcha Europeia pelos Direitos dos Refugiados. Chamou-me à atenção o facto de vir embrulhada numa manta de aquecimento igual à que dão aos refugiados. “Pertenço a um grupo que se chama Solidariedade não conhece Fronteiras. Em agosto fiquei mal ao ouvir todas estas histórias de pessoas como nós. Não sabia o que fazer, mas sabia que tinha de fazer alguma coisa para ajudar estas pessoas. A minha família tem uma casa em Guimarães, já não vivia lá ninguém há oito anos. Falei com eles e decidimos arranjar a casa para poder acolher refugiados. Eu e três amigas fomos para lá fazer obras na casa, mesmo não percebendo nada de construção, arranjámos montes de coisas e pintámos a casa toda. A câmara municipal está a ajudar também a arranjar o telhado e através de donativos conseguimos mobílias e roupas. A casa está pronta a receber uma família.” Perguntei o que fazia a Marta “Sou atriz e tenho um filho com 21 meses. Esta minha ação não me apaziguou nada. Sentia que tinha de fazer algo mais palpável, mais próximo. Em janeiro estive na Turquia, apenas 10 dias, a fazer um workshop de teatro com vários jovens de diferentes nacionalidades. Mas continuo a não sentir que fiz o suficiente. Talvez até achem que esta coisa de ajudar refugiados num campo possa ser um ato de egoísmo meu, ter a necessidade de ir aos campos de refugiados e ajudar in loco. Também se pode prestar muito apoio não indo pessoalmente a um campo de refugiados, mas como disse uma amiga minha, se é egoísmo, pelo menos é a melhor forma de o ser, ajudando os outros. O meu marido tem-me visto muito transtornada com isto e sabe que eu tenho de fazer algo mais, tenho o apoio dele e em abril vou até à “Jungle”. Vou até Dunkirk, no norte de França. É outro dos campos de refugiados semelhante ao de Calais, onde estão cerca de 2500 pessoas em condições miseráveis. Vou ajudar, talvez aí vá conseguir sentir paz interior” Boa sorte Marta.


Lisboa, 27 de Fevereiro de 2016.
Miguel A. Lopes