José Graça, 56 anos. Durante a incansável procura de falar com um “estranho”, na rua Augusta, em Lisboa, onde procurei um carteirista ou um vendedor de droga, ocorreu-me ir falar com o encarregado de um espaço lúdico bastante conhecido no Rossio. O José é animatógrafo e assistente comercial do espaço que costumava frequentar quando era mais novo. E aceitou contar a sua história. “Quando era mais jovem, trabalhava como segurança em alguns estabelecimentos nocturnos. Como durante o dia não tinha nada para fazer, vinha aqui 'por uma moedinha'. Vinha cá quase todos os dias. Até que o patrão me desafiou a trabalhar para eles. Como desde sempre estive de alguma forma ligado à indústria do sexo, aceitei logo. Ou seja, em vez de gastar dinheiro, vinha cá ganhá-lo. É certo que nunca me imaginei aqui a trabalhar. Mas agora trabalho e gosto. Dirijo aqui a ‘orquestra’”. Com ar maroto, José não esconde que, passados 20 anos, continua a dar uma ‘olhada’. Mas esclarece que está ali essencialmente para que não haja abusos. “Infelizmente ainda há muita gente que confunde as coisas. Neste local vêm ver um espectáculo de nú artístico diurno. Não tem nada de mal nisso. O sexo e o prazer andam de mãos dadas”. Impunha-se saber se o fenómeno da internet tinha vindo estragar o negócio... "Creio que somos o único espaço no país, que tem este negócio, havia um outro mas já fechou. Mas acho que não afecta. A nossa principal faixa etária é acima dos 35 anos. As pessoas acima dessa idade sabem que o sexo é importante para a vida das pessoas”. Então e os mais novos, não frequentam a casa? “Sinceramente, acho que a juventude já não tem o mesmo interesse no sexo, como antigamente. Só pensam em tecnologia e internet. É uma juventude virtual. Escondem-se atrás dos computadores. Socializam virtualmente e depois em ‘carne e osso’ não o sabem fazer. Não fazem ideia da importância que é o contacto humano. Conversar olhos nos olhos com uma pessoa. Não dão valor a importância que é um simples abraço”.

Lisboa, 27 Fevereiro 2016
Rui Miguel Pedrosa