José Neves, 52 anos. Natural de Carriço, Pombal. Reside em Leiria há 17 anos. Desenvolve a sua actividade nas comunicações do Agrupamento de Centros de Saúde. Assim que o abordei, respondeu-me que estava com alguma pressa mas foi acedendo e acabou por participar no projecto. Resume a sua vida de forma muito rápida e num tom bem humorado, mas com alguma hesitação inicial sobre a expressão que iria usar para se definir. “Nasci cego. Aliás, invisual. Essa é a expressão jornalisticamente mais correcta. Mas nunca me impediu de fazer a minha vida normal. Se for lá a minha casa não vê nada que seja diferente ou adaptado para invisuais. E a minha esposa também é invisual. E temos um filho, com 16 anos, que, felizmente, vê bem”. Expliquei-lhe que o que me fez abordá-lo foi perceber a confiança com que caminhava. “Sabe, passo aqui todos os dias e já conheço bem estes caminhos. Desde que os postes se desviem, está tudo bem”, diz, entre risos. Contudo, em tom mais sério, explica: “Vocês usam a visão e nós usamos os outros sentidos. Por norma, mantenho a distância dos objectos e tento usar, por exemplo, a audição, para sentir o som de retorno. Implica uma atenção constante sobre o meio que nos envolve. Mas é claro que já me aconteceu bater em objectos”. “Na minha vida sempre fui muito curioso. Quando era mais novo até aprendi a mexer em electricidade. E olhe que ainda levei uns choques. Mas nunca deixei de querer aprender. Porque considero importante termos a experiência”. Nessa altura, começou a descrever o que se estava a passar a nossa volta; a sua percepção do mundo. “Eu considero que vejo tudo. E a natureza dá-nos os meios para nos ajudar. Mas admito que há uma coisa que não posso conhecer: a cor”.
Leiria, 11 Fevereiro 2016
Rui Miguel Pedrosa
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