David Costa, 80 anos. Foi num jardim de Leiria que encontrei o senhor David à conversa com os amigos. Não perde uma oportunidade para se encontrar com eles e manterem a conversa em dia. Os amigos foram interrompendo a nossa ‘entrevista’, sugerindo-lhe que contasse esta ou aquela história. Mas pedi para começar a sua história pelo início. “Agora estou aposentado mas fui agente da PSP. Entrei com 26 anos. Trabalhava na agricultura e cansei-me. Estive três meses no curso, em Lisboa. E depois fui lá colocado. Era condutor dos carros-patrulha. Lá em Lisboa, onde estive 14 anos, tinha uma vidinha pacífica. Era uma cidade calma. Não tinha nada a ver com o que é hoje”. Tendo em conta que sempre ouvi dizer que é complicado a um agente da autoridade exercer a sua atividade em Lisboa, perguntei-lhe como o fazia na sua época. “Ó amigo, no meu tempo era muito melhor. E, lá, só trabalhava 6 horas por dia. Mas, curiosamente, foi ao ser colocado em Leiria, que tive mais aventuras”. Um dos amigos interrompe-o nesse momento: “Conta aquela da Rodoviária”. E o senhor David relata a situação. “Um indivíduo tinha roubado uma mochila na Rodoviária e, durante a perseguição, vi uma pessoa que correspondia à descrição a correr. Mandei-o parar mas não parava. Peguei na arma e quando ia disparar, ela encravou”. Nessa altura, o grupo de amigos começa a rir. Sugerem outra história, ‘a do louvor’. E ele conta: “Ia eu ali, descansadinho da vida, e vi uma viatura da GNR a transportar um preso. Quando me apercebo ele estava a abrir a porta e a fugir. A minha reação foi parar o meu carro e saí a correr atrás dele”. Pergunto se o apanhou. “Bem, naquela adrenalina toda foram os 100 metros mais difíceis da minha vida. Mas apanhei-o. E entreguei o homem aos militares da GNR. E ainda ganhei um louvor”, diz, num ambiente bem divertido, entre a risada dos amigos. Quis aprofundar mais a questão das diferenças entre a criminalidade atual e a de antigamente. “Havia menos ‘variantes’ do crime. Praticamente não havia nada de drogas, por exemplo”. E conclui: “Mas um dos maiores problemas de hoje é que cada vez há menos respeito pela Polícia”.
Leiria, 19 Fevereiro 2016
Rui Miguel Pedrosa
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